Valberto José

Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.

Consórcio mirim de construção de estrada 

Publicado em 12 de julho de 2022

A minha primeira viagem pelo Sertão da Paraíba foi de caminhão, conduzido pelo tio Cleodon, e a BR 230 não tinha saído do papel. Não lembro com exatidão o ano – eu não tinha mais do que oito de idade. Recordo que o itinerário ainda explorava as cidades de Salgadinho e Passagem, estrada de terra, driblando a Serra de Santa Luzia.

Meu pai há tempo deixara a função de motorista de lotação e desde então saia pelas cidades sertanejas vendendo de tudo (comprimidos, miudezas, temperos) e até ultrapassava os limites pisando o chão do Ceará e Rio Grande do Norte. Ônibus, trem, alternativos, qualquer tipo de transporte de quatro rodas, Zé Patrício utilizava; amava uma carona.

Naquela segunda metade dos anos de 1960, Dondon, o cunhado que trabalhava na Premol, tinha uma carga de postes a deitar em Catolé do Rocha. Mesmo com destino a Sousa, papai aceitou a carona e ficou no Triângulo de Pombal, até hoje acesso da BR 230 à terra de Chico César.

No local, um pequeno posto de combustível com restaurante dava suporte aos caminhoneiros e transeuntes. Certamente o primeiro albino que conheci foi quem nos serviu o café da manhã, um inesquecível cuscuz com leite e carne de sol. Lá, papai ficou aventurando um transporte que o deixasse na Cidade Sorriso, e me liberou à companhia do tio.

Minha segunda viagem ao Sertão paraibano aconteceria menos de quatro anos depois, em dezembro de 1970, e para ficar. Ainda não foi dessa vez que pude usufruir do conforto que uma rodovia asfaltada oferece, embora a BR 230 já estivesse concluída em território paraibano. O velho levara a família de trem, o bolso fitando a Serra de Santa Luzia.

Não sei exatamente o ano da conclusão da obra, mas, quando chegamos para morar em Malta (dias antes do Natal daquele ano), o asfaltamento era recente. Em torno de dois anos, imagino, pois, os meninos mais taludos da cidade ainda se entretinham sob a inspiração dos serviços efetuados.

Em grupo, de forma supercriativa, eles colocavam em prática o que vira, portanto, de ação dos homens na pavimentação da estrada. Nessa brincadeira, os garotos utilizavam equipamentos fabricados artesanalmente por eles mesmos, réplicas toscas da frota da Camargo Correia, a construtora responsável pela obra. Caminhões e caçambas, enchedeiras, escavadeiras, rolo compressores, etc.

Quem passava pela BR 230 podia avistar o vaivém dos meninos construindo o autorama de terra em descampado às margens esquerda da rodovia, sentido Condado. A brincadeira resultou na réplica de uma estrada totalmente pavimentada, à semelhança de uma BR verdadeira, com curvas, subidas e descidas.

Pena que eu, certamente já sob os sintomas de retração causada pelo impacto da mudança de cidade, não me enturmei e fiquei apenas a observar a recreação criativa da criançada. Hoje, mais de 50 anos depois, me pergunto se algum dos garotos desse consórcio mirim chegou a ser engenheiro civil, proprietário de máquinas ou carro e empresário do setor.

FRACASSO RUBRO-NEGR0

A campanha do Campinense na série C do Campeonato Brasileiro 2022 só não é mais decepcionante do que a de 1975, ano de estreia da equipe na elite nacional. Tetracampeão do Estado em 74 e com o penta pendente na Justiça Desportiva, o rubro-negro atraiu as melhores expectativas dos paraibanos.

Logo na estreia, no Amigão, a Raposa tomou de 2 a 0 do CSA de Alagoas, e deixou a competição com a lanterna nos ombros, sem uma vitória sequer. Foram 11 jogos disputados, nos quais obteve três empates e oito derrotas, marcando apenas oito gols e sofrendo 27, somando negativamente um saldo de 19.

O resultado mais expressivo foi um empate de 2 a 2 com o São Paulo, na segunda rodada, no mesmo local. Como agora, a Raposa caiu de quatro em duas partidas, diante do Goiás e Vasco da Gama. Os outros empates foram contra os times de Recife, Sport e Náutico. Ah, sim, também levou de 5 a 2 do Bahia em casa.