Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

CONGRESSO CONGESTIONADO 

Publicado em 28 de abril de 2023

Pela primeira vez na história do Brasil – início de um governo – as atenções da sociedade se voltam para o Parlamento, ignorando por completo as expectativas das propostas, programas ou promessas de campanha do Chefe do Poder Executivo, eleito (sob suspeita) pela maioria dos brasileiros, em dois turnos, no pleito de 2022.

Episódio raro, insólito e esdrúxulo num regime Democrático Presidencialista. O povo elege um presidente, conferindo-lhes poderes para determinar os destinos da Nação e concomitantemente um Parlamento, para apoiá-lo, fiscalizá-lo e ajudá-lo na elaboração de novas leis que facilitem a implantação de regras, metas e métodos na busca de avanços expressivos pela prosperidade. Não é o que estamos testemunhando.

O Congresso Nacional – literalmente congestionado pela enxurrada de MP (Medidas Provisórias) do governo – está paralisado. Ainda não conseguiu sequer votar as principais: bolsa renda, criação dos novos Ministérios e revogação da lei da governança das Estatais. Estamos alcançando a marca dos 120 dias de uma gestão, que vem ordenando e executando despesas às escuras (de fato) sem respaldo do “direito”.

Com uma base precária na Câmara – onde consegue contar apenas com 131 deputados federais – a ampla aliança suprapartidária abrangida no período eleitoral não se materializou em apoio incondicional dos parlamentares eleitos e suas respectivas legendas. Mesmo prestigiando o União Brasil, PDT e PSD com Ministérios – ainda não oficializados pelo Congresso Nacional – a avidez de seus aliados por cargos com “poder de caneta” e disponibilidade orçamentária põe o governo no cadafalso.   

Tamanha balbúrdia (em parte) é creditada ao desacerto de sua equipe (dividida) e sua surdez mórbida, motivada por uma arrogância “quixotesca”, ao se recusar ouvir conselhos convincentes, como por exemplo, evitar um infortúnio previsível ao tentar ressuscitar velhos temas ideológicos inumados há décadas.

Em suas andanças – programadas por Celso Amorim – o resultado tem sido o oposto do esperado. A cada pronunciamento, um vexame. Instala-se uma crise de credibilidade fora, e dentro do País. Os atropelos em Portugal parecem que não foram suficientes. Na Espanha – não há registros na mídia de sua recepção protocolar como Chefe de Estado – se atabalhoou com a história e agrediu a ONU, Israel e Ucrânia (mais uma vez). Porém, desta feita, recebeu um duro contra-ataque dos ofendidos.

Nas últimas vinte e quatro horas silenciou. A mídia até ontem (27/04/2023) não noticiou se ele já está no Brasil, ou permanece na Espanha. Na briga do “toma lá, dá cá”, o núcleo petista postergando entregar o prometido resolveu testar seu poder de fogo na Câmara dos Deputados, exigindo a votação em regime de urgência e subsequente aprovação do texto da PEC das “fake News”, já aprovada pelo Senado.

Arthur Lira ficou atônito com o poder de mobilização das redes sociais, meio de comunicação que o governo quer controlar a qualquer custo. Em Plenário obteve 238 votos, contra 192 da oposição. Lira suou a camisa para chegar a este placar, distante dos 476 votos que o elegeram. Entretanto, sua missão era mostrar força ao Palácio do Planalto. Uma vitória de Pirro. Seus “liderados”, como o Republicanos, amigavelmente o acompanharam, mas esclareceram: “votar na urgência, não significa votar no mérito.

O deputado federal Orlando Silva (PCdoB), relator do projeto, percebeu que o governo era um leão (felino) cercado por uma manada de búfalos raivosos. Na busca de uma saída, e evitar uma derrota no primeiro embate em plenário, modificou todo o relatório, retirando do texto a censura, sugestões do Min Alexandre de Morais e atendeu a todas as exigências da bancada Evangélica. Pelo visto, tudo permanecerá como d’antes no quartel do Abrantes. Tempo perdido… Queimaram cartuxos em alvos imaginários.