Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

CONFIANÇA ABALADA

Publicado em 20 de abril de 2024

Na classe política, acordos são verbais. Não existem contratos ou atas, com registro público, consignando direitos e deveres entre as partes pactuadas. Compromissos formalizados nos bastidores do poder exigem fidelidade sobre o acertado ou combinado. Vale a “palavra”. Quebra destes acordos implicam em rompimentos, com perdas desiguais. Um sai mais arruinado que outro.

O governador João Azevedo só chegou ao Palácio da Redenção e conseguiu se manter como seu inquilino – após reeleição – porque soube negociar e ceder espaços aos aliados. Demonstrou desde sua posse (primeiro mandato) resignação e lealdade ao paraninfo de sua carreira política – ex-governador Ricardo Coutinho – que de fato governava a Paraíba até estourar a “Operação Calvário”. Por determinação judicial, teve que afastar alguns de seus auxiliares, que recebiam ordens e se reportavam somente a Ricardo. Talvez tenha sido sua sorte. No primeiro momento, saiu como vítima e teve o apoio da opinião pública. Ricardo aos poucos foi sendo satanizado, ganhou a pecha de tirano, e foi abandonado quando mais precisou do seu amigo João.

A crise ora instalada entre o governo e o partido Republicanos – principal base de sustentação de João Azevedo na ALPB – é provocada pelo Secretário de Educação. Na última quinta-feira (18.04.2024) subindo o tom e demonstrando irritação (em entrevista) o governador subestimou o prestígio e força da legenda que lhes deu a vitória no segundo turno de 2022, ao afirmar que o Secretário permanece na sua equipe, elogiou o seu trabalho, e finalizou destacando que o tema era para ser discutido entre ele e o partido. Não exoneraria ninguém, por influência da imprensa (?).

Resta a curiosidade em saber qual a “imprensa” que o governador se referiu (?), já que todos os grandes veículos de comunicação e suas cadeias sobrevivem e se curvam aos seus desejos. Raros são os formadores de opinião independentes, que se aventuram em criticá-lo ou contrariá-lo. Se o fizerem, serão retaliados. No dia seguinte estarão fora da folha, ou terão seus contratos suspensos pela SECOM. Quanto ao futuro político, foi enfático: “só ele, e somente ele, decidirá no dia 03 ou 04/04/2026, se permanecerá ou não no governo”. Recado grosseiro para os que querem vê-lo Senador.

Comentou finalmente sobre as declarações da senadora Daniella Ribeiro, e sua intenção de reeleger-se. Segundo João, ela não pode abrir mão de suas bases no momento. Em Campina Grande, ela só tem um vereador. O governador já foi mais prudente… Esta “fissura” aberta, pode rapidamente se tornar um abismo profundo.

Na visão conservadora do mundo político observa-se que o problema é o próprio governador, que aparenta estar quebrando o acordo com o Republicanos. Ele mesmo confessou que o secretário foi indicação do partido. Neste caso, a permanência do mesmo na função quem decide é o Republicanos, não o governador. Caberia ao mesmo procurar o maior líder da legenda no Estado – presidente da ALPB Adriano Galdino – indagar quem seria o substituto do atual, e imediatamente nomeá-lo. Time que joga bem, e ganha campeonato, é aquele que troca o egoísmo pelo “espírito de equipe”.