Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

COMO INTERAGIR COM O POVO BRASILEIRO?

Publicado em 20 de fevereiro de 2024

O grande desafio da classe política, artística/cultural – meios acadêmicos envolvendo sociólogos, pesquisadores e estudiosos do comportamento humano – é descobrir um método eficaz, capaz de identificar como interagir com o comportamento hiperativo do povo brasileiro, indo ao encontro de seus anseios. Talvez seja algo simples, como o “ovo de Colombo”. Entretanto, tem sido desconcertante para os profissionais da publicidade, do jornalismo formador de opinião, marqueteiros, e outros curiosos que se arriscam em produzir belas “embalagens” de um produto, para vender seu conteúdo.

No meio artístico, temos vários exemplos de projetos musicais, desenvolvidos por nomes consagrados pela crítica – transformando o Rio de Janeiro como Centro Cultural do Brasil – que resultaram em retumbantes fracassos econômicos. O intérprete Martinho da Vila é um exemplo. Entrevistado por Chico Pinheiro na Globo News (cerca de 10 anos) mostrou a realidade do consumo musical do Brasil.

Martinho da Vila – intérprete suburbano de Vila Isabel – longe do Leblon e ignorado pela crítica musical, estourou em 1969 no Rio deJaneiro com um samba que vendeu 10 mil compactos (época do vinil). “Felicidade…passei no vestibular, mas a Faculdade é particular” … Foi totalmente ignorado pelos “intelectuais” da área. O Programa “Um Instante Maestro “, comandado por Flávio Cavalcanti, desqualificou por completo o sucesso. A bancada de críticos julgou de péssimo gosto, vazio e sem mensagem.

A gravadora o aconselhou seguir o mesmo caminho de Roberto Carlos, Elis Regina, Jair Rodrigues dentre tantos outros. Mudar-se para São Paulo, o maior mercado consumidor de música do país. Ele mudou-se. No segundo compacto – em São Paulo – vendeu 80 mil. Mas, sentiu falta da Orla de Copacabana, o glamour carioca, a boemia…

No ano de 1964, o Rio de Janeiro comemorava seu quarto centenário de fundação. A maior de todas as festividades do evento foi um concurso musical para imortalizar a data. Os grandes compositores de todo país se inscreveram. Quatro rodadas eliminatórias, até a final. O paulistano Adoniran Barbosa resolveu participar. Seus amigos do bairro do Bexiga (descendentes de Italianos) se quotizaram para pagar sua passagem de trem, e a pensão onde se hospedaria. Adoniran levou seu último sucesso em São Paulo: “Trem das Onze”.

Não tinha nada relacionado com o Rio e seus 400 anos.

Quem julgava era o auditório. Os mais aplaudidos eram classificados para a fase seguinte. O compositor João Roberto Kelly apresentou a música perfeita. Falava tudo sobre o evento e a cidade: “cidade maravilhosa, cheia de encantos mil, cidade maravilhosa, coração do meu Brasil” … Chegou a final com “Trem das Onze”. O auditório em peso cantava Trem das Onze, quase que não se ouvia a voz de Adoniran. Já “Cidade Maravilhosa”, poucos conheciam a letra. Venceu Adoniran Barbosa e desedificou o preconceito criado pelos cariocas: “o samba nasce no Rio, morre em São Paulo”. Jornais, Revistas, Rádio e TV, antes da final, fizeram uma campanha contra “Trem das Onze”. Mas, o povão fez sua escolha. O episódio revelou que a mídia não influencia mais no sentimento da população. Até hoje, se perguntarem qual foi o maior sucesso de Chico Buarque, público já sexagenário, só se recordam de “A Banda”.

O povão cantava.

Se somarem todos os discos ou LPs de Chico Buarque, Maria Bethânia, Gal Costa… Monstros sagrados da mídia, que não entende o Brasil, e aferir com os milhões vendidos por Amado Batista – nunca mereceu uma nota de rodapé dos arautos da comunicação – perceberão que o “Bregão” de Amado bateu todos eles. A mídia brasileira sempre teve a característica doutrinadora ideológica. Este foi o motivo de fecharem os jornais, falirem as TV e preservarem ainda o rádio, que a duras penas ainda interage com a população. Na política, a tragédia é bem maior. Tema da nossa próxima postagem.