Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

COERÊNCIA: PARTIDOS TRAVAM BOLSONARO EM SÃO PAULO

Publicado em 2 de outubro de 2024

Prática da “velha política”, inspirada na arte de atrair adversários e desprezar correligionários. A grama do vizinho é sempre mais verde. Nas eleições de 2018, o ex-presidente Bolsonaro foi um peregrino em busca de apoio, pedindo uma chance ao povo para governar o Brasil. Usando apenas as redes sociais, consolidou sua candidatura. Mas, faltava-lhe um partido. Todas as grandes legendas fecharam-lhe as portas. A exceção foi o nanico PSL, com apenas três deputados federais, e os evangélicos.

No momento de escolher um vice – convenções – foi humilhado por Janaína Paschoal, autora do impeachment de Dilma Rousseff. Bombando em popularidade e vivendo seu momento de celebridade, esnobou e recusou o convite do Capitão. Só lhe restou o PRTB, que escolheu o general Hamilton Mourão para compor a chapa Bolsonarista. Duas siglas “formigas”, que se aventuraram a cruzar uma trilha por onde caminhavam elefantes. Sem tempo de Rádio e TV, Fundo partidário e Fundão Eleitoral inexpressivo, quem pagou a conta da campanha de Bolsonaro? O povo, saindo de casa, indo às lotéricas, bancos, fazendo uma “vaquinha”. Ainda não existia o PIX.

Quando as tradicionais legendas constataram sua inevitável eleição, seus representantes (deputados e senadores) pegaram carona. Henrique Meirelles (MDB), Geraldo Alckmin (PSDB); Ciro Gomes (PDT); Marina Silva (REDE) todos viraram “cacarecos”. Só Fernando Haddad (PT), com o que restava das esquerdas, chegou ao segundo turno, ajudado pelas urnas eletrônicas de Zé Dirceu, já solto e já nas ruas.

A história se repete novamente, agora em São Paulo. Pablo Marçal se mantém vivo, a um cerco pior que o de Bolsonaro em 2018. Quem está bancando sua campanha são os eleitores doadores das “vaquinhas”. Mesmo com valores inexpressivos, ele dispõe de um Fundo Eleitoral, que se recusa a usá-lo. Enfrenta o prefeito Ricardo Nunes, que pertence ao MDB, agremiação do ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia, que não deixou Bolsonaro governar por dois anos. E em 2022, lançou Simone Tebet a presidência, tirando 2,2 milhões de votos em São Paulo, eleitorado antipetista, com tendência a votar em Bolsonaro, ludibriados pela grande mídia que insistia numa candidatura de “centro” para quebrar a “polarização”.

Ricardo Nunes era o vice de Bruno Covas (PSDB) que não votou em Bolsonaro (2022). Pablo Marçal era candidato à presidência, renunciou, foi apoiar Bolsonaro, gastou seu dinheiro na campanha, elegeu-se deputado federal, mas, como Dallagnol, teve seu mandato “tomado” pelo TSE, politizado em defesa da causa “petista”.

Fica difícil para o eleitor paulistano entender por que Bolsonaro apoia Ricardo Nunes e não Pablo Marçal. O Capitão não pode se curvar aos interesses de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, que só tem um partido: o poder. Quem elegeu Lula em 2002? Valdemar Costa Neto, que vendeu o PL por 16 milhões de dólares, pagos por Zé Dirceu, para indicar o vice de Lula, o senador mineiro José de Alencar. Unha e carne com Dirceu, Valdemar caiu no mensalão. Foi condenado, livrou-se do problema, aproximou-se de Bolsonaro. Hoje aparenta ser dono do seu destino. O Capitão tem que estar alerta para este “gato”, que gosta da casa. Na hora da mudança, abandona o dono que o alimenta. Bolsonaro tem que reassumir sua liderança, engatando uma marcha à ré, em nome da coerência. Fica ao lado dos que sempre o apoiaram.