Júnior Gurgel
Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.
CLÃ CUNHA LIMA ESPERA A GRATIDÃO DE ROMERO
Publicado em 25 de maio de 2024Não há como entender a insistência do deputado estadual Tovar Correia Lima – mantendo brasas sob cinzas – pregando esperança de transformar em “fogueira” um projeto de autoria anônima que induz Romero Rodrigues a desagregar um grupo, e se rebelar como candidato contra a reeleição de Bruno Cunha Lima. Por que ele faria isto? Ganhar a pecha de traidor? Pagar com ingratidão, a todos que só lhes fizeram o bem?
No clã Cunha Lima sempre teve um espaço privilegiado para Romero Rodrigues, desejado por muitos, como por exemplo, o ex-deputado Arthur Cunha Lima, a quem nunca ofereceram uma vaga para a Câmara dos Deputados. E o desleixo do próprio Romero (quando prefeito) ter esquecido de transferir apenas mil votos para eleger Arthur Filho deputado estadual. Mas, votos para Tovar e Moací, sobraram. Romero ainda não confirmou sua decisão de ser candidato.
A Arthur Cunha Lima também foi negada a oportunidade de construir uma candidatura a prefeito de Campina Grande, nas duas oportunidades oferecidas a Rômulo Gouveia. Eva hoje é oposição ao clã. O espaço de Romero frustrou as expectativas de muitos membros do clã. Impossível avaliar a pressão que Cássio Cunha Lima deve ter sofrido, para deixar Romero Rodrigues na estatura que hoje desfruta. Talvez tenha passado pela mesma aflição e ansiedade que seu pai Ronaldo, quando em 1986 decidiu escolher Cássio, e não o primogênito Ronaldo Filho, para deputado federal.
Dois anos depois (1988) as disposições transitórias da Constituição Cidadã permitiam candidaturas à sucessão com parentesco até em primeiro grau. Todos imaginaram que Ronaldo iria indicar seu irmão, Ivandro. Fiel escudeiro, sua imagem paterna protetora. Seria a revanche contra Enivaldo, que o havia derrotado em 1976. Cássio estava na Câmara dos deputados. Nos “cochichos” da época, apontavam também Ronaldinho. Imagem e semelhança do pai, em meio ao povão. Bebia pinga nas bodegas, contava piadas, hipnotizava aqueles que lhes rodeavam nos bares, ou ambientes que frequentava. Mas, a decisão foi inesperada. Ronaldo tirou Cássio da Câmara dos Deputados, e o elegeu prefeito de Campina Grande.
As semelhanças comportamentais, entre o saudoso Ivandro e Ronaldinho, são absolutamente idênticas: em primeiro lugar, a família é unida. Ambos relevaram as decisões do poeta, e pelo visto, nunca questionaram. Cássio foi governador por duas vezes. Ivandro ainda foi seu Chefe de Gabinete, Arthur Cunha Lima passou uns dias no Escritório do Governo em Campina Grande, mas, na Chefia de Gabinete e posteriormente na Secretaria de Articulação Política – máquina de fazer votos – o escolhido foi Romero Rodrigues, e não Ronaldo Filho. Romero teria ocupado o espaço de Ronaldinho?
A justificativa que Ronaldinho nunca quis, ou não tinha perfil para política, é difícil de acreditar. Sempre foi linha de frente em todas as campanhas, coordenando a propaganda, mídia, comícios e eventos. Por outro lado, que perfil tinha Romero? Ronaldinho em 1982 já poderia ter sido candidato a vereador, tinha 21 anos. Não foi deputado em 1986, mas poderia ter sido vereador em 1988, ao lado de seu irmão, candidato a prefeito eleito. Em 1990, Cássio era prefeito e Ronaldo candidato a governador. Ronaldinho poderia ter sido candidato a deputado federal ou estadual. Em 1998, após a derrota na convenção, Cássio na prefeitura poderia ter eleito Ronaldinho deputado federal, já que a vaga de estadual estava com seu primo Arthur. Veio 2002, 2006, 2010… Somente em 2012 foi que lembraram de Ronaldinho. Escolheram-no como vice de Romero Rodrigues, sob um forte apelo emocional. O poeta havia partido, 90 dias antes do pleito. Ronaldinho desempenhou o papel de seu falecido pai nas ruas de Campina Grande, catando votos e mantendo viva a imagem do clã.
Romero Rodrigues foi eleito com ampla maioria no segundo turno. Durante seus quatro anos não recordamos ter tirado uma única licença, de pelo menos 60 dias, para Ronaldinho assumir. E, sem dar explicação ao povo, na sua reeleição o substituiu por Lucas Ribeiro, então suplente de vereador (?). Ninguém nunca soube os motivos que levaram Romero a praticar tamanha indelicadeza. Ronaldinho engoliu seco, para manter a família unida. Errar é humano, quando apenas uma vez. Romero irá repetir um erro? Trairá Bruno Cunha Lima? Num país cristão, ingratos são mal vistos.