Valberto José

Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.

Cenas urbanas de uma cidade centenária (II)

Publicado em 10 de outubro de 2023

Se a aproximação de uma moto atemoriza os jovens e adultos de hoje, na Campina Grande centenária dos anos de 1960 o ruído de motonetas assustava as crianças. A cidade vivia a intensidade do carnaval em todos os cantos, começando nos bairros, seguindo pelo centro, estendendo-se aos clubes; pessoas usando fantasias que também amedrontavam os pequenos.

No bairro da Liberdade e adjacências o ruído ensurdecedor de uma motocicleta provocava nas crianças pequenas a sensação de que tomaria uma injeção em poucos minutos. Esse pressentimento infantil era causado pelo enfermeiro (ou seria farmacêutico?) Zé Silva, que supria a carência pediátrica daquele tempo sobre duas rodas. “Meu filho não pode ouvir a zoada de Lambreta que pensa que vai tomar injeção”, ouvi muitas dessas frases.

José da Silva Chaves, morador da Rua Almirante Barroso, em frente ao antigo Quartel do 40 (hoje Posto Dallas), mantinha um serviço domiciliar de cuidados à saúde infantil. Montado numa Lambreta, veículo popular tipo moto da época, ele atendia aos chamados de pais ou mães, principalmente na aplicação de injeção. Mereceu ser nome de rua no Quarenta, aquela, antes, Beco da Pavoa.

As andanças de Lambretas de Zé Silva diminuíram de quilometragem na Almirante, quando Seu Teles abriu uma farmácia nas proximidades do Grupo Escolar Apolônia Amorim, perto de nossa casa. Sério, alto, permanentemente de óculos de lentes grossas, costumava esperar o cliente na porta estreita do estabelecimento, escorado na esquadria de um lado, prendendo um braço, e o outro esticado para cima, com a mão apoiada no plano oposto. Deixava-se ver e via todo movimento da rua.

O pânico causado aos pequeninos pelo ruído da Lambreta de Zé Silva transferia-se aos dias de Momo, por força do grande número de papangus, pessoas brincando com máscaras que cobriam toda a cabeça. À medida que iam crescendo, entendendo as coisas e perdendo o medo, viviam nesses dias momentos de encanto. Realmente, era muito bonito ver os papangus, em dupla, trio ou bloco, perambulando pela rua.

A brincadeira do mela-mela e do molha-molha também animava a criançada e movimentava as famílias. Outras fantasias enfeitavam os foliões daquele tempo, dando um colorido especial; homens vestidos de mulheres, sem dispensar as sombrinhas, e exageradamente maquiados.

Nada igual, entretanto, as que transformavam as pessoas em papangus. Pena que um homicídio perpetrado por um deles no centro de Campina Grande, e certamente planejado, na primeira metade dos anos 70, motivou a proibição de brincar carnaval com a “cara coberta”, como dizia meu pai.

Os homossexuais aproveitavam o momento à exibição particular, alheios aos xingamentos de então. Nesse time, a dupla mais famosa do bairro, Tuta e Pé Roxo, se destacava. Contrastando-se no físico, um obeso e o outro bem magro, saiam juntos a desfilar ao longo da hoje avenida, causando a repulsa de muitos e tolerância de poucos.

Em tempos de caça, o número de pequenos caminhões, caminhonetes e jipes transformava a Almirante Barroso daquela década, no final das tardes dominicais, em desfile de caçadores. Vestidos de roupas de couro, chapéus, cartucheiras verticalizadas da cintura pra cima, e na cintura o cinto exibindo os “troféus”, atraiam a atenção até de adultos. Codorniz, inhambus, juritis, rolinhas… Nós, meninos já crescidos, próximos a experimentar os encantos da adolescência, nos divertíamos bastante com esses “desfiles”.

BODAS DE CORAL

No domingo, dia oito, eu e Margarida festejamos 35 anos de casados. Nessas três décadas e meia, soubemos superar as diferenças e as dificuldades surgidas, sempre nos deixando levar pelos ensinamentos de Cristo e, assim, como simbolizam os corais marinhos, estamos amadurecidos e fortalecidos neste Sacramento. O presente veio cinco dias antes: a chegada do segundo neto, José, também o segundo filho de nossa Morgana e de Gustavo. Graças!