Valberto José
Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.
Cenas de uma devoção maternal (IV)
Publicado em 2 de dezembro de 2024Vivenciar a realidade da volta nos deixa fascinados. É como tenho vivenciado a realidade devocional no Santuário de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Bodocongó, desde que voltei a participar das novenas no início de outubro. É, também, a evidência de que “ninguém se perde no caminho da volta”, ainda mais quando movido pela fé, este pequenino grão de mostarda que minha mãe me legou e que continua regando quando a aridez espiritual parece me rondar.
“Porque voltar é uma forma de renascer”, senti renascido em mim a devoção adormecida — não diria perdida. Nessa volta devocional, encontrei o estacionamento reformado e ampliado, cercado por um muro gradeado que não empana a visão da igreja; vi menor a imagem de Nossa Senhora exposta no local de sempre, mas logo veio a explicação de que a original estava em trabalho de restauração e semanas depois já a encontrei, esplêndida e bela, no seu cantinho.
Reencontrei pessoas que há tempo não via e até recordei de Antônio dos Anjos, velho sacristão que me forneceu informações para um trabalho que fizera de uma disciplina do curso de jornalismo em 83. Também de um senhor, cujo nome não consegui lembrar, que ajudava nas missas e novenas e que o encontrei, depois, negociando frutas na Feira Central, mesmo residindo em Massaranduba.
Lembrei com saudade do padre Teodoro e seus olhos alegres e perspicazes e sua agilidade vocal celebrando. Ele, que realizou meu casamento, endossando meu histórico de ligação para com a tradicional igreja, que até na hora de trocar as alianças o sacerdote foi de lá, mesmo a cerimônia sendo em outro templo. Senti falta do padre Luiz Gonzaga, sua voz de trovão e sua autenticidade ao reclamar do errado, que lembravam o seu xará, Rei do Baião. Como senti!
Testemunhar a discreta devoção de minha mãe à Nossa Senhora me encanta; ouvi-la evocar, na sua memória privilegiada, as novenas de então, e reencontrar amigos de uma vida toda tem sido maravilhoso. Admirável sua alegria quando viu que o cantor do horário das 7 da manhã é José Luiz, que deu um brilho vocal muito especial à missa de centenário de minha avó.
Desde minha volta às novenas, ainda não tinha participado com o Padre Felipe, motivador desse retorno com sua pregação no Retiro das Equipes de Nossa Senhora, celebrando. Na penúltima terça do mês de novembro veio a oportunidade, quando, após a celebração, apresentei-lhe Dona Cleonice.
Saindo da sacristia ainda encontramos Zé Luiz no cantinho dos cânticos, que foi de uma simpatia contagiante. “Há 15 anos você cantou no centenário de minha avó, quem sabe daqui a 16 não canta no centenário desta aqui”, disse-lhe, após seu rápido diálogo com minha mãe.
Então, reconhecendo a graça deste fascínio que temos recebido de Deus, agradeçamos e digamos com a Virgem Maria: O Senhor fez em nós maravilhas, santo é o seu nome.