Valberto José

Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.

Cenas de uma devoção maternal (II)

Publicado em 15 de novembro de 2024

Não seria uma eclâmpsia inesperada durante o parto, em sua primeira gestação, que abalaria a fé juvenil de minha mãe. Superada a situação preocupante, fez, agradecida, promessa a Nossa Senhora do Perpétuo do Socorro, e todos os filhos nascidos posteriormente tiveram na Igreja de Bodocongó, às terças-feiras, o primeiro passeio. Foram 12 promessas pagas por termos sobrevividos à doença e permanecidos sem sequelas.

No tempo em que morou em Patos, onde deu à luz os últimos três da prole numerosa, esperava, pacientemente, a primeira oportunidade de visitar os familiares em Campina Grande e cumprir o seu compromisso de fé. Quando, logo, o novo membro da família era, digamos, apresentado à comunidade de origem materna.

Fui um privilegiado na condição de primogênito. Como tal, vivenciei e testemunhei ou ouvi de minha mãe muitas histórias de sua devoção mariana. Inúmeras vezes, quando criança, fui com ela para a novena, saindo da Almirante Barroso e percorrendo a pé o corredor de Dona Mequinha (estreita estrada cercada de avelós ligando os bairros de Santa Cruz e Santa Rosa), agora o Parque Linear Dinamérica, até à igreja.

Uma das histórias que mais me encantaram foi da vez que papai lhe fez companhia em celebração noturna. Na volta para casa, onde hoje é o giradouro sobre a ponte ferroviária, seguiram pelos trilhos, sentido Pedregal, e avistaram um grupo de homens, de onde saiu uma mulher e os acompanhou. Nenhum deles esboçou reação e a mulher foi resgatada, mas sofrendo, na acolhida, a repreensão impulsiva de meu pai.

Dona Cleonice não se contentou como voto único à Nossa Senhora o passeio inicial dos filhos que viriam a nascer. Os dois nascidos após o primeiro parto ganharam o nome de Socorro e Afonso, pagamento de outra promessa feita pela recuperação da saúde.

Recentemente, eu a indaguei como conseguira colocar nomes de santos em cinco de seus 13 rebentos, diante da intransigência de Zé Patricio e de seu radicalismo religioso quando evangélico. “Só tive direito a botar o nome quando lhe dizia que era uma promessa”. A “fé move montanha”.