Júnior Gurgel
Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.
CARÊNCIA DE ENTUSIASMO
Publicado em 16 de janeiro de 2023No início de todo governo – legitimamente eleito – seus primeiros dias após a posse são alcatifados de entusiasmo e esperança da população, independente do segmento social que pertença. Os eleitores vitoriosos, aproveitando o ensejo, esticam o período comemorativo a cada medida ou ato da nova gestão que acene melhoria na qualidade de vida da população. Período considerado como “lua de mel” do Poder.
Os derrotados, cautelosos, preferem silenciar e se absterem de críticas precipitadas, apocalípticas, em razão da prudência. Optam por aguardarem os efeitos práticos, em curto e médio prazo, que se contraponham ao ceticismo de suas convicções sobre as “novas ideias”, que sempre apontam para mudanças.
FHC atravessou quatro anos de sua primeira gestão sendo idolatrado pelo povo, como pai do plano Real – criado por Itamar Franco – que pôs fim à hiperinflação. Propôs mudar a Constituição para se reeleger, e o povo concordou. Não teve a menor dificuldade em derrotar por duas vezes consecutivas o PT. O PSDB cresceu, absorveu o PFL e rachou o MDB. Entretanto, seu antigo projeto político partidário aos poucos foi sendo sufocado pela vaidade de seu líder, que se exacerbou. Não preparou um candidato para sucedê-lo, não fez campanha para eleger José Serra, e no fundo torcia por uma vitória de Lula, na certeza de que a gestão petista seria um desastre, e ele voltaria em 2006.
Lula ao assumir em 2003 encheu o país de esperança. Sua “lua de mel” durou por mais de um ano, e só acabou por conta do escândalo do “Mensalão”. As principais “estrelas” do PT foram parar na cadeia. Até o presidente da Câmara dos Deputados, o petista João Paulo, foi afastado e como tantos outros, os que não renunciaram, foram cassados. Para salvá-lo do impeachment, entregou seu governo a Sarney e ao PMDB, que lhes garantiram a reeleição em 2006. A grande mídia comandada pela Globo faturou incontáveis bilhões, e o transformaram em vítima inocente: “marido traído”.
FHC havia criado uma quota anual para a Globo de 300 milhões de reais. Sarney tirou Franklin Martins (comentarista político) da bancada de jornalismo da emissora, e o “colou” em Lula. Entre o mensalão e o final do primeiro mandato de Lula, o faturamento foi de 5 bilhões de reais. Puseram FHC no freezer, denunciaram erros de sua gestão e o transformaram num cidadão comum.
O poder midiático da época era forte e centralizado na TV. Não existiam as redes sociais. Lula foi reeleito sem dificuldades. O povo esqueceu o “Mensalão”. Em 2006 renovou sua “lua de mel” com o povo, tocou seu governo até o final, e além de preparar – escolheu o mais medíocre de seus auxiliares para sucedê-lo – pensando do mesmo modo de FHC: voltar em 2014. O povo se empolgou com Dilma (2010). Em seu primeiro ano a Presidenta exonerou mais de dez ministros indicados por Lula, sob suspeita de corrupção. Até Antônio Palocci, que tinha sido o tesoureiro de sua campanha e ocupava a Chefia da Casa Civil. Ganhou respeito, enquanto paralelamente sepultava Lula. Queria ser reeleita.
Sua reeleição aconteceu. Mas, sob suspeita da população de fraude nas urnas. Não houve “lua de mel”, a população demonstrou frieza e descrença na sua segunda gestão. Em um ano e meio, o país quebrou, o desemprego atingiu a marca de 14 milhões, perdeu a credibilidade do congresso, e omitindo números, cometeu o crime de “pedaladas fiscais”, motivo do seu impeachment. O núcleo petista quis transformá-la em “vítima”. Pouco mais de um ano, viu sua derrota para o Senado por seu Estado de Minas Gerais, para o desconhecido Rodrigo Pacheco. Nunca houve uma manifestação “volta Dilma”.
A vitória de Lula nas urnas eletrônicas de 2022 foi repudiada pela população, que lhes dispensou tratamento semelhante ou pior ao que foi dado a Dilma em 2014, que no dia de sua posse militantes ocuparam apenas um pequeno espaço da Esplanada dos Ministérios, impedida para acesso da população. Seus primeiros atos derrubaram a economia com fuga de capitais, quebradeira de empresas, Bolsa despencando; redução de crédito; PIB encolhendo 3%. Qualquer semelhança com os primeiros dias de Lula não é mera coincidência, é a história que se repete. “Ninguém engana todos por todo o tempo”.