Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

CANAL ACAUÃ/ARAÇAGI: AÇÃO POLÍTICA DE NEY SUASSUNA A PARTIR DA TRANSPOSIÇÃO E CONSTRUÇÃO DE ACAUÃ

Publicado em 29 de agosto de 2024

A conclusão do canal de Araçagi tem um alcance socioeconômico regional que vai além da segurança hídrica – garantindo abastecimento de água permanente – suprindo necessidades humana e animal de doze municípios. Com a Implantação de um perímetro irrigado de 16 mil hectares, fixará o homem no campo, evitando o êxodo dessas populações para as grandes cidades – mão-de-obra desqualificada – à procura de emprego. Amanhã (30.08.2024), o presidente Lula e o governador João Azevedo inaugurarão uma obra que beneficiará diretamente 600 mil habitantes.

A pequena irrigação se tornou um modelo de micro empreendedorismo rural altamente rentável desenvolvido nas pequenas propriedades (minifúndios), programa exitoso na região Sul do país, onde se destacam os Estados do Paraná e Santa Catarina. Garante uma boa renda familiar, gera empregos diretos e indiretos, amparados na produção de grãos, hortifrutigranjeiros e tubérculos. Na Paraíba, com muito sol, serão três safras por ano. Reduzirá o preço da cesta básica do paraibano, que hoje importa até banana do Rio Grande do Norte, cultivada no Vale do Assú.

Campina Grande e todo o compartimento da Borborema estavam com seu futuro comprometido, pela falta do “líquido precioso”. Suas populações cresceram, e a Capital do Trabalho, sem água, ficou à margem da instalação de grandes plantas fabris. A luta pela transposição das águas do São Francisco foi abortada no governo Sarney pela crise econômica e hiperinflação. O tema voltou no governo Itamar Franco, quando Aluízio Alves licitou a contratação, para elaboração do projeto. Desacelerou-se no primeiro governo de FHC. Apesar de grandes mobilizações, como o “grito das secas”, os Estados da Bahia, Sergipe e Alagoas foram contra. Até o meio “artístico” encabeçado pela paraibana Elba Ramalho, protestava (?) Diariamente dava declarações à mídia, contra a transposição.

O presidente Fernando Henrique Cardoso nomeou o líder do PMDB no senado, paraibano Ney Suassuna, para o Ministério da Integração Nacional. O ex-secretário de Recursos Hídricos, José Silvino Sobrinho, o procurou e entregou-lhe uma minuta do projeto. Ney, que já havia sofrido uma queda, em cima de uma pilha de latas vazias em frente ao Congresso, disse que não perderia a oportunidade. Licitou a obra, começou a construção, chegando a concluir toda a tomada d’água e iniciando o canal principal. Infelizmente, teve que renunciar – apesar de FHC ter insistido em sua permanência – para ser candidato a governador. O ritmo foi desacelerado, e a obra paralisada.

Neste interregno, para salvar Campina Grande da sede deu uma canetada e construiu Acauã, sob o protesto de quase toda a Paraíba. As entidades classistas e oposição ao governo e Ney, argumentavam que Acauã seria abastecida pelos esgotos de Campina Grande. Jamais sangraria. A água seria imprestável para o consumo. Ney retrucava, apontando que as águas viriam do São Francisco. Além de 60 milhões de reais para a obra, mais 60 foram destinados para aquisição de equipamentos complexos – grandes bombas – para a estação elevatória levar a água até Gado Bravo, cerca de 580 metros de altitude. Canos, bombas, sistemas elétricos… Misteriosamente, todo este equipamento desapareceu. Com a chegada da transposição a Boqueirão, as águas de Acauã, que viriam para Campina Grande, agora serão destinadas ao canal de Araçagi.

Registro histórico: a transposição teve duas inaugurações na cidade de Monteiro. Uma com a presença de Michel Temer, outra com a presença de Dilma (já impedida). Ney não foi convidado para nenhum dos eventos. Acauã quando sangrou, Maranhão estava rompido com Ney. Também não esteve lá. E amanhã, mesmo sendo suplente de Senador, temos a certeza que também foi esquecido. Este tipo de ingratidão, machuca.