Campina Grande: venceu o melhor marketing, a melhor postura e o mais preparado
Publicado em 28 de outubro de 2024O candidato Jhony Bezerra (PSB), derrotado ontem por Bruno Cunha Lima (UNIÃO BRASIL), colecionou uma série de erros, a partir do seu marketing político, que pior não poderia ser. Foi importado de João Pessoa, escalado pelo núcleo político do governador João Azevedo, já derrotado três vezes na cidade: 2018/2022 em dois turnos.
Optou como tema principal – carro chefe de seu discurso – a renovação, condenando os 42 anos de comando político das oligarquias campinenses. Numa linguagem menos agressiva, as “familiaridades”, como rotulou o empresário Artur Bolinha. Este foi o primeiro dos seus incontáveis erros. Não são 42, são 77 anos de comando em Campina.
Ao usar o exemplo do médico Elpídio de Almeida deveria ter conhecido sua história. Se ele tivesse perguntado ao também médico Alfredo Lucas, ele lhes teria relatado os fatos com precisão. Elpídio foi eleito apoiado pelas famílias, que na época se rebelaram e fizeram oposição a Argemiro de Figueiredo. À frente dos insatisfeitos, Seu Cabral, que após ouvir lideranças políticas levou ao ex-interventor Argemiro de Figueiredo o resultado. Votariam em qualquer nome, só não no Major Veneziano Vital do Rêgo – seu cunhado – por não ser de Campina Grande, vinha de Limoeiro-PE.
Argemiro pediu a seu Cabral para apresentar uma relação com cinco nomes. Cabral levou dezenove, e o primeiro da lista era Acácio Figueiredo, médico e irmão de Argemiro. Ao examinar a lista, Argemiro indagou: e o nome de Veneziano? Cabral desistiu da empreitada. Uniu todos, e escolheram Elpídio, que sequer tinha figurado na lista. Era um médico querido na cidade. O major Veneziano venceu na cidade, mas perdeu na zona rural, que tinha na época um eleitorado maior que a sede do município.
De 1945 a 1970, ninguém chegou a ser prefeito de Campina Grande sem o apoio de Argemiro ou de Seu Cabral. Seus sucessores foram Ronaldo e o saudoso tribuno Vital do Rêgo. Ambos cassados em 1969, oportunizou em 1976 a volta do Cabralismo através de Enivaldo Ribeiro, cunhado de Doquinha, filho de seu Cabral. Enfrentou Ivandro Cunha Lima, que representou o Argemirismo. No final dos anos 90, o tribuno Vital passou o bastão para seus filhos, Vital Filho e Veneziano. Ronaldo foi aos poucos transferindo o bastão para seu sucessor Cássio Cunha Lima. De 1976 a 2022, o eixo das disputas municipais foram as três oligarquias: Cunha Lima, Rêgo e Ribeiros. O único que não tinha um destes sobrenomes foi Félix Araújo Filho. Mas, foi eleito pelos Cunha Lima. Jhonny, perdido e contraditoriamente, esqueceu os Ribeiros, oligarquia patrona de sua candidatura.
A força dos irmãos Galdino o levaram ao segundo turno, criando expectativas de uma disputa apertada. Mas, lhe faltou o preparo de sua equipe, e o mesmo apoio e empenho do governador João Azevedo, dedicado a Cícero Lucena em João Pessoa. Foi agressivo nos debates, não apresentou propostas inovadoras, e limitou-se a um único tema: saúde. Bruno apresentava as realizações de sua gestão, avanços na educação, na própria saúde e um show de urbanização, com pavimentação de ruas, recuperação do Parque Evaldo Cruz, conclusão da Av. Dinamérica…
Atirando no próprio pé, Jhony cobrava a construção de casas (?). Campina Grande é a única grande cidade do Nordeste sem déficit habitacional. Construção de Escolas? As que já estão instaladas, sobram espaços. A luta do secretário Asfora Neto e seu brilhante desempenho, é trazer as crianças ou alunos para ocuparem as vagas existentes. Quando falava em “fome” – discurso do PT desde 2002 – batia de frente com os Restaurantes Populares. Projeto exitoso da gestão Veneziano, reabertos há dois anos. Sem acusações de corrupção, malversação do erário público, contas aprovadas pelo TCE, o que atingiria a imagem de Bruno? A cada debate, Johnny se esvaziava.
No último, o da rede Globo 48 horas antes da eleição, saindo do roteiro e partindo para o improviso, Jhonny foi atingido por um “cruzado de direita” desferido por Bruno, que o levou a beijar a lona. Cobrou de Bruno a falta de calçamento no bairro do Ligeiro. Calmamente, Bruno respondeu: “o candidato sequer conhece a geografia da cidade. O Ligeiro é um bairro que pertence ao Município de Queimadas, por ato do seu governador João Azevedo”. Foi o fim… Bruno teve a melhor postura nos debates, mostrou mais preparo, e seu marketing foi um espetáculo à parte nas redes sociais.
Mesmo com todas as adversidades, Jhonny obteve 98 mil votos. Se continuar na política, já garantiu uma vaga na ALPB em 2026, e pode ser um forte candidato para a Câmara dos Deputados.
Perdeu, ganhando.
Fonte: Da Redação (Por Júnior Gurgel)