Emir Gurjão

Pós graduado em Engenharia Nuclear; ex-professor da Universidade Federal de Campina Grande; Secretário de Ciências, Tecnologia e inovação de Campina Grande; ex-secretário adjunto da Representação do Governo da Paraíba, em Campina Grande; ex-conselheiro de Educação do Estado da Paraíba.

Campina Grande e China: dois mundos, duas direções

Publicado em 9 de abril de 2025

Enquanto a China se consolida como a “fábrica do mundo”, responsável por 33,3% de toda a manufatura global e com presença crescente até no setor de serviços mundo afora, Campina Grande segue um caminho oposto: o da desindustrialização silenciosa e preocupante.

A China, mesmo com baixa proteção social e pouco consumo interno (apenas 13% do total mundial), entende que sua força está em produzir, exportar, ocupar espaços. As empresas chinesas vendem de tudo – do parafuso ao satélite – e já estão controlando ou participando como acionistas de serviços mundo afora, inclusive em setores estratégicos como energia, tecnologia e infraestrutura.

Campina Grande, por sua vez, virou apenas consumidora. Importamos bolacha de Mari, doce de Patos, café de João Pessoa e Caruaru, macarrão de Recife e até carne de frigoríficos do Piauí. Ovos, pregos, tubos de PVC, roupas… tudo vem de fora. É como uma casa onde ninguém cozinha, ninguém costura, ninguém martela um prego – tudo é comprado pronto. Isso custa caro e empobrece a cidade.

SINAIS CLAROS DA DESINDUSTRIALIZAÇÃO

A lista de vagas oferecidas pelo SINE em Campina Grande é reveladora. Das 983 vagas, quase nenhuma está ligada à indústria de transformação. Não se procura torneiro, fresador, mecânico de manutenção industrial ou auxiliar de produção. A única vaga que tangencia a indústria é para operador de extrusora de plástico e borracha – uma gota num deserto.

A maioria das vagas está no comércio, serviços, atendimento, saúde, gastronomia e telemarketing (que sozinho oferece mais de 400 vagas). Estamos formando uma cidade de “atendentes”, enquanto a base da produção desaba. Um carro sem motor pode ter o melhor banco, o melhor som, mas não vai sair do lugar.

JÁ TIVEMOS INDÚSTRIAS, E MUITAS

Campina Grande já foi um polo industrial forte, com fábricas de café, macarrão, biscoitos, sabão, margarinas, óleos vegetais, pregos… Hoje, restam poucas, mantidas pelo esforço quase heroico de empresários locais. Não há renovação, não há novas plantas. O ciclo se rompeu.

E o que fazem os poderes públicos? Nada. O escritório da CINEP, que deveria fomentar a industrialização, quase fechou as portas. Os distritos industriais, criados para atrair empresas, estão abandonados há mais de 20 anos. Não há um único lote preparado pelo governo estadual para oferecer como incentivo locacional. Nenhuma indústria foi trazida a Campina Grande pelo Estado nos últimos anos.

O poder municipal também se omite completamente. Não há projetos, planos ou sequer um discurso animador. Em resumo: estamos à deriva.

CONSEQUÊNCIAS E O RISCO DA IRRELEVÂNCIA

Sem produção industrial, a cidade perde dinamismo, renda e independência econômica. Fica refém de políticas públicas frágeis e do consumo externo.

Perdemos talentos, mão de obra técnica se muda ou se adapta a funções mais simples, subutilizando seu potencial. A juventude que poderia operar uma CNC está vendendo planos de celular ou fazendo entrega de moto.

É como se a cidade estivesse fechando suas fábricas e abrindo caixas registradoras. E, se não há quem fabrique, há pouco para vender e quase nada para investir.

CONCLUSÃO: FALTA UM PROJETO PARA CAMPINA GRANDE

Enquanto a China avança pelo mundo como uma locomotiva produtiva, Campina Grande vê seus trilhos enferrujarem. Sem vontade política, sem incentivos, sem estratégia, estamos nos tornando consumidores dependentes em vez de produtores independentes.

A cidade que já foi referência em tecnologia, indústria e educação precisa urgentemente de um novo ciclo industrial. Não é apenas uma questão econômica – é uma questão de identidade e de futuro.

Se continuar assim, Campina Grande corre o risco de virar apenas um entreposto comercial entre Caruaru, João Pessoa e Recife. Uma cidade que assiste seu próprio talento ir embora, enquanto espera por empregos que não exigem mais do que um sorriso e um crachá.

CAMPINA GRANDE ESTÁ SE DESINDUSTRIALIZANDO

Enquanto a China fabrica, a gente consome. Entenda o que está acontecendo com a Rainha da Borborema.

CHINA: A FÁBRICA DO MUNDO

* A China produz 33,3% da manufatura global.
* Participa até do setor de serviços em outros países.
* Pouca segurança social, mas muito comércio externo.
* Ela fabrica. Ela exporta. Ela domina.

CAMPINA GRANDE: A CONSUMIDORA DO AGRESTE

* Importamos bolacha de Mari.
* Café de João Pessoa e Caruaru.
* Macarrão de Recife.
* Carne do Piauí.
* Roupas de Santa Cruz do Capibaribe.
* Pregos de Souza.
* Tubos de PVC de Recife.

PRODUZIMOS POUCO. COMPRAMOS QUASE TUDO

Cadê a indústria?
* Das 983 vagas do SINE, quase NENHUMA é industrial.
* Sem vagas para torneiro, fresador, auxiliar de produção.
* Quase 400 vagas para telemarketing.
* Vagas para cozinha, vendas, atendimento.
* Só UMA vaga para operador de extrusora.
Já fomos mais fortes
Tínhamos fábricas de:
– Torrefação de café
– Biscoito
– Macarrão
– Sabão
– Margarina
– Óleos vegetais
– Pregos
Hoje? Restam poucas. Só resistem pelo esforço de empreendedores locais.

PODER PÚBLICO AUSENTE

– A CINEP praticamente fechou.
– Distritos industriais abandonados há 20 anos.
– Nenhuma nova indústria chegou com apoio do Estado.
– Prefeitura? Inerte. Sem planos. Sem ação.

CONSEQUÊNCIAS GRAVES

– Menos produção = menos renda.
– Talentos técnicos subutilizados.
– Jovens abandonam a cidade ou trabalham em funções simples.
– Estamos virando só consumidores.

CONCLUSÃO: PRECISAMOS REAGIR

– Campina Grande precisa de um novo ciclo industrial.
– Produzir é ter autonomia.
– Não podemos virar apenas um entreposto comercial.
– Nossa história exige um futuro melhor.

CHAMADA PARA AÇÃO

– Marque alguém que acredita no futuro de Campina Grande.
– Vamos cobrar atitude dos governos.
– Produção é vida. Produção é progresso.

Elaborado por Emir Candeia Gurjão, as 07:57 horas do dia 09 de Abril de 2025, dia 09 de abril, segundo o Google ocorreu o movimento Quebra-Quilos, em Campina Grande.