
Emir Gurjão
Pós graduado em Engenharia Nuclear; ex-professor da Universidade Federal de Campina Grande; Secretário de Ciências, Tecnologia e inovação de Campina Grande; ex-secretário adjunto da Representação do Governo da Paraíba, em Campina Grande; ex-conselheiro de Educação do Estado da Paraíba.
Campina Grande 160 anos
Publicado em 11 de outubro de 2024Campina Grande celebra hoje seus 160 anos de fundação, e é impossível não recordar como a cidade era quando aqui cheguei, em 1962, aos 8 anos de idade. Naquela época, a cidade já era conhecida como a “Rainha do Algodão”, vivendo o auge de seu ciclo econômico impulsionado por essa cultura agrícola. As grandes algodoeiras, como a famosa Sanbra, movimentavam a economia, transformando o algodão em riqueza e atraindo comerciantes e empresários de várias partes do Brasil.
A cidade, com sua urbanização crescente, ainda conservava muito do charme de um grande interior. Muitas ruas ainda eram de terra, e as principais, calçadas com paralelepípedos, misturavam construções antigas com novas edificações que despontavam no horizonte. Entre os primeiros edifícios com mais de 10 andares, destacavam-se o Rique, o Lucas e o Palomo, verdadeiros marcos arquitetônicos de uma cidade que estava começando a olhar para o futuro.
Os transportes em Campina Grande eram bem diferentes dos de hoje. As empresas de ônibus faziam trajetos apenas dos bairros para o centro, e em cada veículo, havia um cobrador. A ferrovia ainda era a espinha dorsal do transporte de cargas, especialmente do algodão, ligando a cidade ao Ceará e a Pernambuco, além de permitir o deslocamento dos passageiros que vinham e iam de outros estados.
Os tempos também eram de grande efervescência cultural e social. Campina Grande tinha uma vida noturna vibrante e animada, com seus cinemas – Avenida, São José, Babilônia, Capitólio, e os cinemas de bairro – que eram ponto de encontro de jovens e famílias. Os clubes como o Campinense Clube e o Treze Futebol Clube fervilhavam de eventos, bailes e shows, assim como as festas nas sociedades de amigos de bairro e nas sedes de clubes de futebol amador. O futebol, aliás, vivia o seu auge, com o acirrado clássico entre Treze e Campinense movimentando as tardes de domingo.
O carnaval de rua era uma festa à parte, com os tradicionais bailes e o animado “mele mela”, onde a diversão era garantida com água e pó, trazendo toda a alegria e irreverência típicas do nordestino. Já no período noturno, os cabarés famosos eram um dos destinos dos boêmios da cidade, compondo um cenário que misturava tradição e modernidade.
Campina Grande também vivia um momento de inovação na comunicação. A TV Borborema dava seus primeiros passos como a primeira emissora de televisão local, enquanto o Diário da Borborema era o único jornal editado na cidade, levando as notícias aos seus moradores.
As indústrias desempenhavam um papel fundamental no desenvolvimento econômico da cidade. Além do algodão, havia fábricas de fogões como a Wallig Nordeste, de café, como o São Braz, Aurora, Café Esporte, Café Centenário e Café Diamante, que espalhavam seu aroma pelas ruas. Outras indústrias, como a Sanca (fábrica de pregos), a CIMAL (fábrica de macarrão), a Poty (fábrica de sabão) e o óleo Don-Don, contribuíam para o dinamismo da economia local. As distribuidoras de combustíveis, como Texaco, Esso, Shell e Atlantic, completavam o cenário de uma cidade que se modernizava, mas ainda preservava seu ritmo próprio.
Os bairros tinham suas lideranças locais, figuras como o Cabo Augusto, que era uma presença marcante no bairro da Liberdade, e o famoso Cabo Vaqueiro, que mantinha a ordem e era respeitado por todos. Eram tempos em que a vida de bairro tinha um sentido de comunidade muito forte, e a cidade ainda se moldava pelo contato próximo entre as pessoas.
Em 1962, Campina Grande já era um centro pulsante de cultura, comércio e produção, mas mantinha sua alma de cidade acolhedora. Hoje, ao celebrar 160 anos, é possível ver o quanto a cidade se transformou, mas também se manter fiel às suas raízes de trabalho, alegria e um espírito empreendedor que nunca se perdeu. É com nostalgia e orgulho que relembro aqueles tempos, e com esperança, vejo Campina Grande seguir adiante, renovando sua tradição de ser um polo de crescimento e um lar para todos que aqui chegam.