Júnior Gurgel
Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.
CAMINHOS DO AMANHÃ (Parte I) – Os avós do Bolsa Renda vinte anos depois
Publicado em 25 de março de 2024Logo após assumir a Presidência da República – primeiro mandato – o Presidente Luís Inácio da Silva, que havia adotado como tema de campanha o inesgotável discurso de “combate a fome no Brasil”, lançou em janeiro de 2003 o programa “Fome Zero”. Uma continuação do “Comunidade Solidária”, do seu antecessor FHC, criado pela socióloga Ruth Cardoso, para atender 700 mil famílias em estado precário, renda familiar abaixo do salário mínimo, espalhadas principalmente no interior nordestino.
Já existia o “Vale Gás” e o PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), que destinava R$ 25,00 para cada criança, acima dos cinco anos de idade, dispensando-as de trabalharem e garantindo sua frequência escolar. O governo FHC financiou a criação destas escolas através de transferência de recursos para os municípios. O objetivo era combater o analfabetismo, a partir da mais tenra idade.
Para os chefes de famílias desempregados, residentes na zona rural, o Bolsa Renda (2002) se complementava com cestas básicas.
Os erros do ‘FOME ZERO” começaram a partir da publicidade veiculada na TV, apesar de levar a assinatura do genial Duda Mendonça. Um texto exibindo um prato vazio, finalizando com a mensagem: “quem tem fome, tem pressa”. Na época, comentamos em um artigo que o prato deveria ser mostrado vazio no início, e no final cheio. Quem mata fome é prato cheio. Talvez a dúvida tenha origem na culinária: que tipo de alimento deveria ser exibido no prato? Componentes de uma cesta básica comum? Sem carnes, verduras e frutas? Chegou o mês de junho de 2003 e o “Fome Zero” ficou só na publicidade. Uma longa discussão foi travada no PT, tão improdutiva quanto a designação do sexo dos anjos, que consumiu seis séculos da Igreja Católica.
José Dirceu, o poderoso Chefe da Casa Civil, com experiência de vida adquirida em “Cuba” – onde esteve exilado por muito tempo – redefiniu o “modus operandi” da Ilha. Ao invés do “Libreto” – jamais seria aceito no Brasil – optou pela junção do vale gás, PETI, cestas básicas e converteu em valores. Transferência de renda direta, garantiria o voto com a mesma eficácia do *Libreto Cubano.
Encerraram o debate do “Fome Zero” e criaram o Bolsa Família. Finalmente, dez meses depois, em outubro de 2003, foi realizado o primeiro pagamento do Bolsa Família, destinando a 1,15 milhões de famílias. O valor foi de R$ 73,67, correspondente a praticamente 1/3 do salário mínimo da época, R$ 230,00. A relação foi “politicamente” generosa, elaborada pelas Prefeituras e os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais – que desde a criação do FUNRURAL – tem sede, funciona e é militante do PT nos mais distantes grotões do sonolento “gigante adormecido”.
A expectativa dos criadores do “Bolsa Família” era uma redução lenta e gradual dos beneficiários, e a extinção do programa em no máximo uma década. Paralelamente, o MEC lançou o EJA – Educação para Jovens e Adultos, ressuscitando um dos programas exitosos dos governos militares, o extinto MOBRAL. Ofertava cursos profissionalizantes através do sistema “S”, e criou o ensino profissionalizante, no ensino médio.
As primeiras famílias assistidas pelo Bolsa Família eram formadas por casais entre 18/25 anos, hoje se aproximam dos 50 anos. Nunca trabalharam, continuam analfabetas, vão ter que um dia se aposentar (?). Comico, se não fosse trágico. A alternativa será criar um “Libreto” para os futuros idosos de 2030. Seus filhos já casaram, e a exemplo dos pais se dependuraram no Bolsa Família. Hoje seus netos caminham para adolescência, sem a menor consciência do que significa a palavra “trabalho”, muito menos “estudo”. Lá se foram duas décadas perdidas, e o PT que esteve 14 anos no governo, pelo visto não acabou com a fome.
Na sequência, parte II.