Valberto José
Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.
Bonna Pizza, buona vita!
Publicado em 30 de novembro de 2023O sabor da pizza fumegante saindo do forno ainda umedece a nossa boca, a minha(?), a da mulher e a dos filhos. A refeição noturna do sábado tinha local certo, pois resultante da parceria bilateral com o pizzaiolo do bairro. Nos meus 27 anos de prática empresarial, tive várias parcerias, das quais duas foram marcantes pela reciprocidade, aquela na qual um compra ao outro.
Estreei meu açougue em 10 de junho de 1992, na rua Enfermeira Maria de Lourdes, quando o Jardim 40 nem bairro era; Cláudio abriu sua pizzaria nos primeiros dias de dezembro daquele ano, iniciando nossa relação comercial que durou cerca de 25 anos.
Se ele já me prestigiara antes, eu e Margarida começamos a retribuir-lhe o prestígio logo no sábado da semana que sua loja abrira, com dois filhos pequenos na cola. Desde então, na Bonna Pizza, vivenciamos grandes momentos em família.
A recepção aos familiares vindos de fora em visita anual, os encontros ocasionais com os residentes aqui, o acolhimento de sobrinhos (Luciano, o mais assíduo)… Tudo terminava em pizza, na Bonna Pizza. Nela, tirava o estresse de uma jornada de trabalho que começava “antes da barra da aurora”, terminando às sete da noite.
Foi lá, numa noite de março, que Margarida começou a sentir as dores do parto, o parto da terceira gestação. No domingo, deu à luz a menina que completou nossa trindade filial. Também lá, pela primeira vez, ofereci bebida a um filho, causando espanto à mãe. Foi quando Helder, o primogênito, completara 18 anos.
Minha assiduidade e minha desenvoltura na Bonna Pizza confundiam clientes; vez por outra um deles pensava ser eu o dono. Eu mesmo botava minha dose, buscava no freezer o refri filial, corria à cozinha em bate papos demorados com Cláudio, sempre atento no preparo das iguarias pedidas; em certas ocasiões até atendia clientes; servindo-lhes doses, preenchendo comanda.
Não era, e não sou, um fã de pizza, preterida, por vezes, pelo tira gosto de minhas doses; razão de Cláudio acrescentar uma maior quantidade de fatias de calabresa, ou providenciar porções à parte. Com o tempo, ele começou a assar carne na chapa para que eu tomasse as minhas doses, que variavam, conforme o gosto etílico do dia, entre Rum e Campari.
O fechamento do canteiro da Av. Almirante Barroso pela STTP, impedindo o acesso ao Jardim 40 pela Rua Enfermeira Maria de Lourdes de quem vinha motorizado de Rosa Cruz, Cruzeiro e adjacências, profetizou o fim da parceria; sem rotatividade automobilística, o comércio do bairro começou a declinar. A bilateralidade acabou quando Cláudio optou por outra atividade comercial, mudando radicalmente de ramo. Bona Pizza, buona vita!