Valberto José

Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.

Bodas de coral, cora!

Publicado em 24 de outubro de 2023

Comemorar dezenas de bodas parece ser um ato de heroísmo nos tempos modernos. Foi o que senti diante do espanto de certas pessoas ao tomarem conhecimento de que eu e Margarida completamos 35 anos de casados no último dia oito. Não, gente, não há nada de bravura nessa resistência decenal; é dádiva divina que procuramos fazer por merecer. O padre nos abandonou no altar, Deus, não! Em tempo nenhum.

A cerimônia religiosa foi na Igreja de Nossa Senhora da Guia, aquela da Praça do Trabalho, no São José, época de campanha política. De súbito, surgiu um carro de som em altos decibéis indo da Rua João Moura, naqueles anos via dupla, contornando a praça com a sonoridade que invadia o ambiente e ensurdecendo a todos.

Ensandecido pelo barulho, Padre Teodoro saiu do altar em direção à calçada, um braço levantando-se em rápidos movimentos verticais, o dedo indicador apontando o incômodo sonoro, e falando coisas que ninguém escutava. Nem o motorista. Consumada a passagem do carro, voltou ao altar e retornou a cerimônia.

Dois não querem se um não quer, ensina a sabedoria popular. Nós queríamos e continuamos querendo conviver até o chamado à eternidade. A vida a dois não é fácil, mas temos conseguido, com as graças de Deus, superar as diferenças e as dificuldades surgidas. Confiança, companheirismo e cumplicidade não nos têm faltado.

O casamento é um contínuo e eterno exercício de paciência, que, dizem os meus próximos, é uma das minhas virtudes. Também é um constante aprendizado em busca do equilíbrio entre as diferenças pessoais. Particularmente, soma-se à paciência a condição de não ter herdado o DNA masculino da infidelidade. Nunca, em meu tempo de solteiro, namorei duas moças ao mesmo tempo.

O espanto de certas pessoas diante da longevidade de nosso enlace me assusta. Algumas, de tanto assombro, até mudaram a fisionomia, quase ruborizando a face. Não devia ser assim. Ainda bem que a filha Morgana acalmou esse espanto, no grupo de WhatsApp da família, e celebrou nossas Bodas de Coral com um gratificante “meu maior exemplo de casal”.