Valberto José
Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.
Bálsamo em dose dupla
Publicado em 8 de março de 2022A dor e o alívio chegaram para Tânia, amiga e cliente, até o fechamento do nosso comércio, praticamente ao mesmo tempo e via celular. O alívio, em dose dupla, vale confirmar. Mãe de quatro filhos, dos quais apenas um do sexo feminino, encontrou na única filha a forma abençoada de triplicar o número de mulheres na família.
Na primeira gestação da filha Inise, que casara já madura, veio uma neta, o que não foi ineditismo familiar, pois um dos filhos homens já lhe dera a alegria de uma menina. Causou surpresa a gravidez repentina da filha, uma prévia da grande surpresa que viria na primeira ecografia.
A segunda gestação da filha amenizou o impacto em Tânia da notícia de que o irmão que mais amava, e que há muitos anos vivia em São Paulo, foi diagnosticado com câncer intestinal. Enquanto o mano intensificava o tratamento, ela se organizava por aqui para lhe fazer uma visita e passar uns dias por lá ajudando nos cuidados.
O primeiro passo foi comprar as passagens aéreas, marcando o embarque para data posterior, preferindo a comodidade de embarcar em Campina Grande, embora em voo noturno. Com o decisivo apoio do marido, que ficaria na cidade, Tânia se preparava psicologicamente para o reencontro dolorido.
Ao mesmo tempo em que cuidava dos preparativos da viagem ansiada, Tânia também ajudava a filha a cuidar da menina e a tomar cuidados com a gravidez inesperada. Até estranhou o tamanho da barriga pelo tempo da gestação, sem desconfiar de nada.
A uma semana do embarque à capital paulista, Inise foi fazer a ultrassom, enquanto Tânia optou por ficar em casa, ultimando os preparativos da viagem. Ocupada nos afazeres domésticos, o celular toca e, quando atende, é a cunhada dando-lhe a notícia de que o irmão não resistira aos efeitos de mais uma sessão de quimioterapia e foi a óbito.
Uma das decisões de Tânia após se refazer do impacto inicial da notícia desagradável foi ligar para o genro, que acompanhara a mulher no exame, e lhe contar da perda que sofrera. “Mas não conte à Inise agora, não”, recomendou, aconselhando primeiro uma conversa preparatória.
Passados uns dois minutos, quem liga chorando para Tânia é a filha. “Igor já te disse? Mamãe, mamãe, a barriga é gêmea. E duas meninas. Vou ficar com três filhas”, contou, em lágrimas de emoção. “Foi um bálsamo divino, essa notícia”, disse a mulher na visita solidária que nos fez, dias após nossa perda filial.