Valberto José

Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.

Aventuras maternais de viagens

Publicado em 20 de março de 2025

Às vésperas de inteirar 85 anos dia sete próximo, minha mãe coleciona um histórico de viagens que é de invejar caminhoneiro. Com filhos em São Paulo, Santa Catarina, Piauí e Rondônia, basta o estalar dos dedos de um deles, que começa a arrumar a mala e parte para matar a saudade mútua, levando-lhes seu amor, ternura, fé contagiante e, o que mais me impressiona nela, fruto dessa fé, sua reconhecida serenidade.

Neste país continental, Dona Cleonice só não viveu uma experiência viajando de navio, mas navegou várias vezes nos barcos (foto) amazônicos nas incontáveis viagens que fez a Rondônia. Eu mesmo tive a felicidade de atravessar com ela, de barco, o Rio Mamoré, em Guajará-mirim, e vivermos momentos de descontração no lado de lá, Guayaramerín, na Bolívia.

Irmã e tia de motoristas, tem na memória alguns itinerários em boleia de caminhão. No seu histórico de turista súdito filial, tem até uma viagem de ônibus a Porto Velho – não lembro se nos anos 80 ou 90 – quando sofreu um acidente, que foi notícia no Jornal Nacional. Passou três meses lá e só nos contou no dia em que chegou de volta.

Há menos de dois anos viajou de avião sozinha a São Paulo, onde passou oito dias. Da capital paulista foi para Santa Catarina, de onde uma semana depois seguiu de carro a Porto Velho acompanhando a filha Socorro e o genro Elvio no volante, além de uma bisneta. Foram cinco dias de estrada, e a travessia (foto) sobre o rio Paraná a encantou.

O acidente a caminho de Rondônia não lhe mexeu tanto, quanto a infelicidade de ver, numa de suas viagens voltando de Teresina, o desespero de uma mãe perdendo o filho com transtornos mentais que acompanhava no ônibus. Num momento de aflição, ele aproveitou a escuridão da noite e pulou da janela do veículo, não resistindo ao impacto na estrada deserta. Ela, que uns 15 anos antes vivera situação extrema com o filho caçula.

O mais recente passeio de Dona Cleonice foi na madrugada da quarta-feira de Cinzas, justamente a Teresina. Meu irmão Afonso viera, juntamente com a mulher, passar o carnaval aqui. A irmã Aurora, de férias, resolveu pegar carona com o mano e lhe estalou os dedos, animando também a mana Anete, completando a lotação do carro. Saíram bem antes de 4h da madrugada, numa viagem agradável, de pouquíssimas paradas, chegando no final da tarde.

Não obstante ser de ônibus, a viagem de volta foi boa; a chegada a Campina Grande é que foram elas. O coletivo da linha São Luiz/Natal, da Empresa Progresso, já chegou em Teresina com atraso de mais de hora e saiu mais atrasado ainda, na noite de sexta-feira, 14. Antes dos serviços de duplicação, chegava no início da tarde do outro dia, após a intensificação dos trabalhos, por volta de 17h.

No sábado, às 14h20, minha mãe me liga informando que almoçara em Patos e o ônibus estava saindo. Às 16h40, meu cunhado comunica que o carro passara na Praça do Meio do Mundo, e às 17h outra irmã, aqui, envia mensagem garantindo que o coletivo já rodava na Alça Sudoeste.

Rápido, peguei o rumo da rodoviária, imaginando já encontrar o ônibus estacionado na plataforma. Ledo engano. Aja esperar, esperar, sem que genitora e mana atendessem minhas ligações ou respondessem meus contatos. Já passava das 18h quando o veículo riscou no terminal de passageiros.

O motorista, por certo, desconhecia que Campina Grande tem estação rodoviária. Ao chegar à cidade, sem qualquer comunicação aos passageiros, seguiu direto para a garagem da empresa, no “Zepa”. Depois de uma limpeza malfeita, contornou o giradouro de acesso à BR 230 e seguiu sentido João Pessoa.

Foi preciso a mana correr à cabine do motorista e avisar. Ele, depois de algumas palavras injustificáveis, pegou o retorno após o posto da PRF e veio deixar mãe e filha no local de desembarque. Aí conheceu o terminal rodoviário de Campina Grande. Pode isso, ANTT?

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