As lideranças que inspiram a nova geração de mulheres na robótica
Publicado em 18 de novembro de 2023Já tem um tempo que falamos da participação crescente das meninas nos torneios de robótica realizados pelo Serviço Social da Indústria (SESI). Na modalidade iniciante, por exemplo, elas são maioria. Mas, quando o assunto é representatividade, é importante olharmos não só para a presença de competidoras, mas para os postos de liderança, se elas ocupam espaços de destaque e de tomada de decisão.
Quatro histórias inspiradoras nos mostram como a robótica tem dado oportunidade para mulheres seguirem uma trajetória na área STEAM (sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática) e serem exemplo para a nova geração. Nas pistas ou nas arenas, nos palcos ou nos bastidores, elas têm o conhecimento e o poder!
Abaixo, você vai conhecer mais sobre Rosi Carvalho, líder do Comitê Nacional de Avaliações da FIRST LEGO League Challenge (FLLC); Isabela Gomes, primeira juíza na pista do F1 In Schools; Amanda Wilmsen, chefe de inspeção dos robôs na FIRST Robotics Competition (FRC); e Aline Zarpelão, primeira mestre de cerimônia e narradora de partidas mulher na FIRST Tech Challenge (FTC).
A big boss da FLL
Rosi Carvalho começou a sua história na robótica há quase duas décadas como técnica de equipe de escola pública na periferia de Canoas, no Rio Grande do Sul. Professora de informática, ela enfrentou alguns perrengues e várias barreiras até chegar na liderança do Comitê Nacional de Avaliações da FLL.
Lá em 2006, Rosi já fazia história. A gaúcha conseguiu classificar a primeira equipe brasileira de escola pública para o mundial, em Atlanta, nos Estados Unidos. Uma coisa foi levando à outra, e com o passar dos anos, ela atuou em diferentes áreas. Haja função, viu? Mentora, anjo, juíza, árbitra, chefe dos árbitros e por aí vai… Até ser convidada para compor o comitê em 2017.
“A partir do momento em que eu passo a liderar um grupo de profissionais de alta competência e ter a responsabilidade de lidar com isso internacionalmente também é inspiração para qualquer pessoa, principalmente para as mulheres”, acredita.
O comitê, que não tinha nem uma mulher até 2017, hoje conta com três entre os cinco membros.
“Desde o início, eu fui, muitas vezes, criticada e enfrentei diversas barreiras por ser mulher, por ser de escola pública. Mas eu nunca aceitei os ‘nãos’, enquanto existisse um fio de possibilidade, eu estava lá correndo atrás”, lembra.
Além desse superpoder – que exige altas doses de responsabilidade, integridade, conhecimento e imparcialidade – Rosi ainda desempenha a função de superintendente de Inovação de Gestão Pública no município de Canoas. E, claro, concilia a agenda de mil atividades com a de mãe de um jovem de 22 anos.
A primeira juíza nas pistas da Fórmula 1
Se você prestar atenção, verá pouquíssimas mulheres na Fórmula 1. Na F1 in Schools – projeto educacional da principal competição de automobilismo – é diferente. Se o número de competidoras já surpreende (elas foram 52% dos participantes no torneio nacional de 2022), imagina o pioneirismo de ter uma juíza, a primeira, das pistas.
Isabela Gomes conseguiu esse feito. Ex-competidora da FLL e do F1 In Schools, a mato-grossense e acadêmica de direito foi convidada para ser juíza de pista e de escrutínio neste ano pela sua experiência como competidora, que começou aos 11 anos de idade.
“Estreei como juíza já no torneio nacional. Bate um nervosismo, mas é uma experiência maravilhosa. É muito bom viver os dois lados, o de participante e agora como juíza”, conta.
“O mundo da Fórmula 1 realmente é muito masculino, e o festival e a modalidade tentam instigar que outras mulheres participem e ingressem nesse universo. Quando a minha equipe ganhou o prêmio, foi muito importante para mostrar que a gente estava ali fazendo a diferença e que a competição independe de gênero”, defende.
A menina que tinha bastante vergonha de falar em público antes da robótica hoje é inspiração para outras. Isabela relata que, nos torneios, competidoras chegam até ela para perguntar como conseguiu estar ali. “Elas olham para mim e também querem estar ali, assim como um dia eu quis chegar no lugar que estou agora”.
A inspetora-chefe dos robôs gigantes
Aos 19 anos, Amanda Wilmsen coleciona uma lista de torneios, prêmios e trabalhos voluntários. A ex-competidora da Under Control, de Novo Hamburgo (RS), tem no currículo a participação em sete competições internacionais, sendo dois mundiais; alguns Chairman’s Award, prêmio de maior prestígio, que reconhece os projetos sociais e de ciência e tecnologia do time; e vários cargos de voluntária.
Tudo começou no 8º ano, quando a avó mostrou o jornal com a notícia de que uma equipe de robótica da cidade tinha conquistado prêmio em competição internacional e vaga para o mundial. “Eu disse que eu poderia fazer parte de algo grande assim também, e fazer a diferença na vida das pessoas”, lembra. Assim foi.
Ela competiu de 2019 a 2022, fez uma rede de contatos e entrou para vários projetos, como o Robótica para Todos, que doa kits e material didático de robótica para as escolas que não têm acesso; o Robotics Without Borders, que oferece videoaulas e suporte semanal a estudantes de outros países; e o Girls in Control, que incentiva mulheres a ingressarem nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia, design e matemática.
Depois de passar dois anos na STEMOS, empresa que dá suporte e é fornecedora de equipamentos às equipes no Brasil; hoje ela cursa Engenharia de Software com foco em ciência de dados e faz estágio na SAP, gigante de software para empresas. O Rotation Program permite aos estagiários passarem por quatro áreas diferentes da empresa em dois anos.
“Uma juíza do torneio no ano passado me falou sobre o programa, eu apliquei no mesmo mês e fui aprovada em dezembro, depois de passar por quatro testes técnicos. Quem participa de programas como esse possui uma vantagem enorme no futuro! Estou na 4ª maior empresa de software do mundo graças à robótica”, comemora.
Com esse vasto currículo e oportunidades de treinamento com o inspetor do mundial Matt Mittag, Amanda se tornou chefe de inspeção da modalidade mais avançada da robótica, a FRC. Ela coordena os inspetores que avaliam todos os requisitos técnicos dos robôs, que têm mais de 56 kg e chegam a 2 metros de altura. Ela também é mentora da Under Control e da Ananintech, equipe do Pará de FTC.
A MC que conquistou o Brasil
Aline Zarpelão, de 20 anos, deixou sua marca (+ rosto e voz) na história da robótica ao ser a primeira Mestre de Cerimônia e narradora de partidas da FTC. A estreia, aprovada com sucesso pelos participantes e organizadores, aconteceu no off season em agosto deste ano no Rio de Janeiro.
Simpatia, diversão e muita bagagem técnica foram a marca da nova MC, que soube explicar as partidas e conduzir o evento com maestria. Tudo começou quando ela entrou para a equipe Under Control 1156, em 2017, com a qual competiu pela FRC por três temporadas.
Desde que começou na FRC até depois de formada, ela trabalhou como voluntária em todas as categorias, nacional e internacionalmente. Apresentou três Chairman’s Award pela equipe, competiu em dois mundiais e fechou sua participação como competidora com um Dean’s List em 2020.
Hoje, vivendo em outro país como graduanda da Humber College, em Ontario, no Canada, ela reconhece que escolheu o curso por influência dos torneios.
“Acredito que a robótica é um dos principais motivos pelo qual estou onde estou hoje e faço o que faço. Teve um impacto muito importante para mim no ensino médio e me orientou de diversas formas a decidir coisas importantes sobre o meu futuro, como o curso de design industrial”, explica.
Também foi a robótica que despertou o interesse pela graduação no exterior. “Tive que escrever um porfólio e contar um pouco da minha experiência, que era 90% da robótica. Passei na faculdade e ganhei bolsa de estudo graças à ela”, orgulha-se.
Ao falar da função de mestre de cerimônia, Aline abre um sorriso largo e se emociona. Já esteve como participante da competição e, agora, é prestigiada por todos. Nos palcos, ela é a voz que transmite a emoção e cada detalhe da disputa. Assim, é referência não só para quem está competindo, mas para todos aqueles que estão nas arquibancadas e também têm a chance de vibrar e se encantar pelos robôs e pelas pessoas que conduzem o espetáculo.
Fonte: Assessoria