Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

AS DIFICULDADES DA CLASSE POLÍTICA ALCANÇAR O POVÃO ATRAVÉS DA MÍDIA (parte I)

Publicado em 22 de fevereiro de 2024

Nos anos oitenta, período fervilhante da redemocratização, tendências embalaram o povo brasileiro na busca de mudanças. A classe política tradicional (no poder) correu à procura da mídia, para se abrigar do tsunami de 1986, quando o PMDB elegeu 22 dos 23 governadores dos Estados na época. Três outros Estados e o DF surgiram após a Constituição de 1988. A grande maioria errou, e foi derrotada pela falta de interatividade dos profissionais dos meios de comunicação, com o povo.

No vizinho Rio Grande do Norte o empresário Geraldo Melo aventurou-se a enfrentar a oligarquia Maia, que havia derrotado o maior mito do RN, Aluízio Alves, quatro anos antes (1982), com um candidato neófito – jovem engenheiro – José Agripino Maia. A derrota foi acachapante: 110 mil votos de maioria. Chegando em 1986, ninguém da oligarquia Alves queria enfrentar os Maia. José Agripino tinha realizado uma gestão brilhante. Afastou-se do governo e disputou o Senado, ao lado de seu antecessor Lavoisier Maia. O povo não conhecia Geraldo Melo.

No momento de montar sua equipe, Geraldo Melo – visão futurista – preferiu contratar uma agência de publicidades, a Baiana GFM & PROPEG, que tinha a conta do Banco Econômico de Ângelo Calmon, seu amigo pessoal. Tempos depois, em conversa conosco, explicou: “a briga era entre Alves e Maia, se revezando no poder desde 1960. Apesar de estar no MDB, eu não queria figurar como preposto dos Alves”. Se o pleito fosse fácil o candidato não seria ele, seria um Alves. Foi escolhido para montar e bancar um palanque, perder a campanha, e eleger a bancada de parlamentares. Duda Mendonça, do departamento de criação da GMF & PROPEG, estreou como marqueteiro. Trouxe o trio Asas de Águia, recém lançado no carnaval baiano, para os “Showmícios”.

O saudoso Geraldo, no seu primeiro contato com Duda Mendonça, foi claro: “um candidato é um produto. Sua tarefa será vender este produto a um mercado consumidor, o eleitor”. Crie músicas, atraia o povo, e oriente como devo me comportar. No palanque, e no corpo a corpo. Faça pesquisas, esqueça legendas, históricos partidários, referências… Descubra o “novo”. Terminada a campanha, o PFL elegeu os dois senadores, cinco dos oito deputados federais, e uma maioria expressiva na Assembleia Legislativa. A vitória de Geraldo foi solitária. Maioria de apenas 14 mil votos. O registro histórico é para o leitor saber como e onde surgiu o milagroso “Marketing Político”, que sobreviveu até 2018.

Os meios da comunicação sempre foram parturientes de lideranças políticas, quando intuitivamente alguns profissionais da área conquistaram a confiança do povo. Aluízio Alves (Udenista) foi um jornalista (imberbe) que aos 22 anos se elegeu deputado federal Constituinte em 1947. Era assessor de imprensa de Dona Diva, primeira Dama do Estado, esposa do governador Dinarte Mariz, presidente da LBA. Chegou ao governo do Estado 13 anos depois, derrotando Djalma Marinho, avô de Rogério Marinho, candidato de quem projetou politicamente. Maioria de cinco mil votos.

Na campanha de 1978, o MDB-RN estava com dificuldades de formar uma chapa para a Câmara dos Deputados. O locutor de Aluizio em 1968, e de Henrique (1970), era o saudoso Carlos Alberto, que tinha um programa matinal na Rádio Cabugi: “Bom dia Secretárias do Lar”. Henrique o pôs na chapa, para ajudá-lo. Eis a surpresa: obteve quase a mesma votação que Henrique, e foi eleito na grande Natal. Em 1982, os Maia lhes ofereceram a vaga do Senado. Elegeu-se com folga e puxou José Agripino, para derrotar seu padrinho político, Aluízio Alves. Tempos em que todas as casas tinham uma empregada doméstica, e foram elas formadoras de opinião ou cabos eleitorais que elegeram Carlos Alberto de Souza, deputado federal e Senador da República.

Na sequência, a Paraíba.