
Amaro Pinto
Advogado, Cronista, Articulista paraibano. Fascinado, humilde e curioso aprendiz do Direito, Literatura, Teologia e Filosofia. Avante – sempre – porque somente DEUS é grande.
AS ASAS DO SILÊNCIO.
Publicado em 7 de julho de 2023“…esse silêncio vivo, que é, daqui de baixo, a eternidade começada”.
FRANÇOIS MAURIAC,
Mémories interieurs.
O meu silêncio é um passarinho, que dorme comigo sozinho, na solidão das mesmas asas.
Anda tanto com meus passos, voando juntos em nossos abraços, sob caminhos viajantes, e sóis ardentes – feitos um nas mesmas casas, em brisas de poentes e nascentes corredeiras; descem ao meu peito – tal paineiras, havidas em vidas costuradas assim nos próprios laços, desatados pelo comum destino.
Ele chega como é do deu feitio natural, desapercebido e sem signos aparentes, desafeito a olores, mormente vagidos – porquanto somente fala calado, mais que poeta nos íntimos tinindo – aos profundos escaninhos indevassáveis da alma.
Conheci-o há muitos lustros e de logo fez morada em mim, posseiro algumas vezes, noutras mais tantas conselheiro e amigo confidentes, em meio aos vagalhões dos tempos, no fragor de batalhas tantas, sob as dores por ele adornadas em golpes sibilinos de decepções profundas e tão dolorosas, calcando áspides e derrubando leões – aspergindo e trazendo à lume coragens desconhecidas no bolor de fraquezas quantas, convoladas em de iguais incontáveis vitórias inesquecíveis.
A ele me afeiçoei com tamanho sentimento que cheguei a amá-lo e dele sentir premente falta, quando resolve ir-se sem nenhum motivo e satisfação a paragens outras – desapegado que é, avesso mesmo, a estridentes situações, provocadas por mim mesmo e quanto ao mais por pessoas e lugares outros – nos quais sua natural sabedoria não se compraz, nem se coaduna – ao contrário, se liquefaz – como ventos soprados de orientes todos, mendazes, ingratos, pérfidos e traiçoeiros tolos – no dizer da lenda pagã de quem devora os inerentes nascedouros e anteriores jazentes.
Seu ressoar em mim é escutado no peito, reverberando no cérebro, em cores cintilantes e flores de matizes diversos – fita minha face com inflexível franqueza, repuxa e toca os meus tímpanos em batuques de sambas de avenida – em contraponto à suavidades múltiplas de sinfonias ornadas por ternuras eternas.
Não me desdoura nem embevece, se desapega de orgulhos e vaidades, lança-se em ojerizas profundas e inamovíveis invectivas contra a soberba de dias mais frágeis e seres e sentimentos menores.
Eia a humanidade comum!
Falha, volátil, fugaz, imperfeita – indigente de grandezas e virtudes, repleta de vaidades contumazes e alhures.
Vem meu silêncio de imensurável e presente valia, velho amigo e companheiro, irmão escolhido das lutas e alegrias da vida – vem e assoma esse ser a quem tanto e mui profundamente você conhece – e faz de mim a sua casa e moradia – dando-me azo a deslizar pelos maduros tempos vindouros, ó ciciante e perfeito musicista, percussionista e violinista, contraposto e dual, da Sabedoria Divina, mora em mim e em mim reverbera – sempre silenciosa e sabiamente como somente você sabe fazer. Vem.
Avante porque somente DEUS é grande.