Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

ARTHUR LIRA ENTERRA CPI DO MST 

Publicado em 10 de agosto de 2023

Usando ato de força, desprezando o diálogo e motivado pela truculência, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira – respaldado em parecer jurídico do Parlamento – anulou com uma canetada a convocação da oitiva do ex-governador da Bahia, Rui Costa, Chefe da Casa Civil do governo Lula, que seria inquirido pelos membros da CPI que investiga os desmandos do MST. 

A ansiedade do Colégio de Líderes – composto pelos presidentes dos partidos com assento no Parlamento – na busca arrebatada para se instalar no Governo a qualquer custo, fez com que o impossível acontecesse. Não esperaram Maomé ir até a montanha; precipitada, a montanha humana foi ao encontro do profeta. O gesto cobrado pelo esperto ex-líder sindical, veterano e calejado na maestria de usar a pressão, esticando a corda no limite, evitando parti-la, dobrou o oponente, que capitulou genuflexamente. 

Puxaram o tapete dos deputados federais Coronel Zucco (Republicanos RS), presidente da CPI, e do relator Ricardo Sales (PL-SP). O tombo os levou a beijar o chão. Atingido pelo “fogo amigo”, Coronel Zucco desabafou: “Esta casa escreve o pior capítulo de sua história…” Subsequentemente, o deputado Ricardo Salles anunciou que não pediria prorrogação de prazo. Os trabalhos se encerram dia 14/09/2023 – quando apresentará seu relatório – que talvez não seja aprovado por seus pares. 

O avanço das investigações inevitavelmente chegaria às fontes financiadoras do movimento de invasões. Como “todos os caminhos levam a Roma”, a quebra de sigilos bancários, fiscais e telefônicos atingiria membros do atual Governo. Ligações com OCRIM seriam desvendadas, desdobramentos gerariam fatos novos, que poderiam ocasionar um pedido de impeachment do Presidente da República. Para quem escapou do mensalão, tropeçou no petrolão e foi alvo da Operação Lava-jato, a CPI do MST tinha que ser abortada. 

Resta a indagação, sobre os poderes superdimensionados conferidos às bancadas do Agro, Evangélica, Conservadora… Por que não resistiram à ousada, intempestiva e inédita ofensiva de Lira? A resposta está nas cúpulas dirigentes do PP, União Brasil e Republicanos, que trocaram sete membros titulares – considerados “bolsonaristas” – por suplentes que votam com a base do Governo, disciplinados e fiéis seguidores das orientações de suas legendas. 

A manobra deixou o Governo com maioria na CPI e oposição acuada. Doravante, os papéis se inverteriam. Caçadores seriam adejados. Por outro lado, judicializar o ato discricionário de Arthur Lira? Todos já sabem que o STF é mais “progressista” que Lula. 

A maioria do Congresso sempre foi governista. Arthur Lira fez tudo que Bolsonaro pediu, quando esteve na Presidência da República. Inclusive, campanha para sua reeleição. Mas, o diplomado pelo TSE foi Lula. A página foi virada, e um novo capítulo se iniciou a partir de 01/01/2023. Fortalecida, a alcateia parte para o ataque. Arrancará três ministérios e exigirá a destinação dos 60 bilhões, alocados para as obras do novo PAC, para serem endereçados às pastas sob controle do PP, União Brasil, Republicano. O PL começa a fissurar…