Valberto José

Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.

Aridez sacramental

Publicado em 8 de abril de 2024

A consciência de que sou um católico claudicante me inquieta. Claudicante, sim. Mesmo que, rigorosamente, cumpra o preceito de ir à missa todos os domingos, ou aos sábados após as quatro da tarde. Se tiver oportunidade, ainda vou no meio de semana e raramente perco a das Equipes de Nossa Senhora, celebrada mensalmente. Nos últimos dias da Semana Santa esse sentimento me aflorou interiormente de forma intensa.

A participação assistencial na Vigília Pascoal e na Celebração Eucarística da manhã do Domingo de Páscoa colocou ainda mais sal na minha moleira exposta. A sensação de que, durante o rito da aspersão da água, não senti uma gotícula sequer na minha pele, nos meus escassos cabelos ou superficialmente nas minhas vestes, motivou essa inquietude interior, própria de quem está com algum débito na fidelidade religiosa.

Prestes a iniciar a celebração, chegamos com a igreja lotada, mas ainda conseguimos assento na bateria de cadeiras improvisada na lateral, bem colada à parede. No momento da aspersão da água, o diácono, que poupara o padre obeso do serviço, saiu aspergindo pela nave central, girando, lentamente, para um lado e outro da assembleia, dirigindo-lhe o aspersório, cujas gotículas, pela distância, pouco chegavam nas transversais.

Imóvel no meu canto, o olhar na expectativa da bênção, vi o clérigo permanente passar, sem que, na sua rotação corporal na intenção de aspergir a todos, sentisse partes do meu corpo ou as vestes borrifadas pela água benta. Compreendi que seria difícil uma gotícula chegar a todos e me conformei, até que fui surpreendido com ele voltando para o altar, ainda aspergindo, pela lateral em que me encontrava. De novo, não mereci esta graça, embora visse as marcas das gotículas na parede.

Na missa matinal do domingo, na capelinha próxima à minha casa, me alegrei, confiante, quando o padre iniciou a aspersão. Perfilado ao lado da mulher, a primeira do banco no corredor central, senti apenas uma gotícula no braço direito. “Muito pouco”, pensei, ao tempo que fui me consolando, consciente de que falhei em protelar a confissão durante a Quaresma. Refletindo, concluí que essa aridez sacramental vivenciada nesses dias santificados foi um sinal. Um sinal divino, me advertindo que devo melhorar na prática católica.