Ao menos 32 crianças entre os 125 mortos em tragédia em estádio da Indonésia

Publicado em 3 de outubro de 2022

Ao menos 32 crianças morreram no tumulto em um estádio da Indonésia, que deixou 125 mortos e 323 feridos, informou à AFP um funcionário do Ministério do Empoderamento das mulheres e da Proteção da Infância. Na manhã deste domingo, a AFP chegou a divulgar que o número de mortes havia chegado a 174, mas, pouco tempo depois, confirmou as 125 vítimas fatais.

“De acordo com as últimas informações que recebemos, das 125 pessoas que morreram no acidente, 32 eram crianças, sendo a mais jovem um menino de três ou quatro anos”, afirmou Nahar, que como muitos indonésios tem apenas um nome.

A confusão começou depois que torcedores do Arema FC invadiram o gramado do estádio Karnjurhan depois que o time perdeu por 3-2 para o Persebaya Surabaya, a primeira derrota para o rival em mais de duas décadas.

Há ainda cerca de 180 pessoas hospitalizadas. Após a batalha em campo, a liga nacional suspendeu a realização de jogos.

A polícia tentou conter os torcedores e fazer com que eles voltassem às arquibancadas, disparando gás lacrimogêneo depois que dois policiais foram mortos.

— Os policiais dispararam gás lacrimogêneo, e automaticamente as pessoas correram para sair, empurrando umas às outras, e isso causou muitas vítimas — disse Doni, um espectador de 43 anos que não quis revelar seu sobrenome, à AFP. — Nada estava acontecendo, não havia tumulto. Não sei qual foi o motivo, de repente eles atiraram gás lacrimogêneo em nós. Isso me chocou, eles não achavam que havia crianças e mulheres?

Um diretor do hospital disse à televisão local que um menino de cinco anos estava entre as vítimas. O presidente indonésio, Joko Widodo, ordenou neste domingo uma revisão da segurança nos estádios após a tragédia. Em uma mensagem televisionada, Widodo ordenou que o ministro do Esporte e Juventude, a polícia nacional e a associação local de futebol “realizassem uma avaliação completa das partidas de futebol e dos procedimentos de segurança”.

Imagens capturadas dentro do estádio durante a debandada mostraram grandes quantidades de gás lacrimogêneo e pessoas subindo cercas. Algumas delas carregavam espectadores feridos em meio ao caos.

Outras imagens divulgadas nas redes sociais mostram pessoas gritando obscenidades para os policiais, que se protegiam com escudos. O estádio tem capacidade para 42 mil pessoas e, segundo as autoridades, estava cheio. A polícia indicou que cerca de 3 mil pessoas invadiram o campo.

— Gostaria de enfatizar que […] nem todos os participantes tiveram comportamento anárquico. Apenas cerca de 3 mil entraram em campo — disse o chefe de polícia da província de Java Oriental, Nico Afinta.

A tragédia na cidade oriental de Malang é a segunda pior em estádios registrados no mundo, atrás apenas do ocorrido no jogo entre Peru e Argentina, em Lima, em 1964.

Liga suspensa

Veículos queimados, incluindo um caminhão da polícia, permaneceram do lado de fora do estádio na manhã de domingo. O ministro indonésio de Esportes e Juventude, Zainudin Amali, pediu desculpas pelo incidente e prometeu investigar as circunstâncias da debandada.

— Lamentamos este incidente […]. É um incidente lamentável que prejudica o nosso futebol numa altura em que os adeptos podem ir ao estádio assistir aos jogos — disse à rede Kompas. — Avaliamos rigorosamente a organização da partida e a presença de torcedores. Vamos proibir novamente a presença de torcedores nas partidas? É isso que discutiremos.

A Federação Indonésia de Futebol (PSSI) suspendeu os jogos de futebol por uma semana, proibiu o Arema FC de sediar jogos em casa pelo resto da temporada e anunciou que enviará uma equipe de investigação a Malang para determinar as causas da tragédia.

— Lamentamos e pedimos desculpas às famílias das vítimas e a todas as partes pelo incidente — disse o presidente da PSSI, Mochamad Iriawan.

Da mesma forma, o presidente da Confederação Asiática de Futebol, Salman bin Ibrahim al Khalifa, disse estar “profundamente emocionado e triste ao ouvir notícias tão trágicas da Indonésia, um país que ama o futebol”. A Indonésia planeja sediar a Copa do Mundo Sub-20 da FIFA em maio em seis estádios do país. O de Malang não está incluído no torneio.

Indignação contra a polícia da Indonésia aumenta após tragédia

A indignação contra a polícia da Indonésia aparenta ser cada vez maior após as 125 mortes. A irritação com as autoridades ficaram evidentes em frases pintadas nos muros do estádio, como “Meus irmãos morreram. Investiguem”, ao lado da data da tragédia. Uma petição online com o título “A polícia deve parar de usar gás lacrimogêneo” recebeu quase 6 mil assinaturas nas primeiras horas.

— Uma de nossas mensagens é que as autoridades devem investigar de maneira profunda. Queremos prestação de contas. Quem é o responsável? — questionou Andika, de 25 anos, que não revelou o sobrenome. — Queremos justiça para os torcedores mortos.

Uma vigília foi organizada no domingo à noite do lado de fora do estádio Kanjuruhan para homenagear as vítimas.

Em Jacarta, centenas de torcedores se reuniram nas proximidades do maior estádio do país e gritaram “assassino”, assim como canções de apoio ao Arema FC.

O presidente do clube, Gilang Widya Pramana, pediu desculpas e se responsabilizou pelo incidente.

— Como presidente do Arema FC, assumirei toda a responsabilidade do ocorrido. Peço desculpas profundas às vítimas, seus familiares, todos os indonésios e à Liga 1 — disse.

O ministro da Segurança do país do sudeste asiático, Mahfud MD, determinou uma investigação e punição aos responsáveis pela tragédia.

Ele anunciou que a comissão de investigação terá integrantes do governo, analistas, dirigentes do futebol, representantes da imprensa e das universidades. E prometeu resultados em duas ou três semanas.

Grupos de defesa dos direitos humanos exigiram uma comissão independente e que os policiais sejam responsabilizados pelo uso de gás lacrimogêneo em um espaço fechado.

— Os jovens passavam com as vítimas nos braços. Acho que a polícia ultrapassou os limites — declarou à rádio espanhola Cadena Ser.

O presidente da Fifa, Gianni Infantino, considerou a tragédia um “dia sombrio para o futebol”.

Fonte: O Globo