Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

ANSIEDADE INCONCLUSIVA 

Publicado em 18 de março de 2022

Senador Veneziano Vital do Rêgo procurou obsessivamente nos últimos três anos pretextos motivacionais que justificassem entrar em rota de colisão com o governo que apoiava, oportunidade que lhes ensejasse um discurso de oposição. Vãs, infrutíferas ou frustradas tentativas não lograram êxito. A postura de “distensão” adotada pelo governador – dividir a responsabilidade de sua gestão com 27 dos 36 deputados estaduais – tornou-se uma trincheira difícil de ser removida. Principalmente utilizando-se de velhas táticas (conhecidas e repetitivas) da “prestidigitação de retóricas”, carregadas de conteúdos mesquinhos, fastidiosos, encanecidos.

Sem o “novo”, não se entusiasma o povo.

Por outro lado, Ricardo Coutinho continua confundindo liderança com poder de caneta. Quando governador – primeiro mandato – “jugulou” por algum tempo a classe política profissional, que não sobrevive distante dos Palácios. Instinto de sobrevivência que prevalece não só na Paraíba, mas em Brasília e em todos os Estados da Federação.

A história se repete…

Cássio Cunha Lima (2010) se elegeu Senador e levou Ricardo Coutinho para o segundo turno. Algo inesperado, José Maranhão estava governando a Paraíba e disputava sua reeleição. Se Cássio tinha a intenção de voltar ao Palácio da Redenção em 2014 – concluir seu mandato interrompido em 2008 – encerrasse sua participação em 03/10/2010. Entretanto, movido pelo revanchismo, ingressou no prélio do segundo turno. Venceram a guerra, tripudiando o velho Cacique do MDB, impondo-lhes uma derrota humilhante e vexatória: 160 mil votos de maioria.

Cássio provavelmente tenha se arrependido. Subentende-se por sua ausência (sem justificativas) em 01/01/2011, na solenidade de posse do então “socialista” que ajudou a eleger. Todavia, Coutinho o seduziu, explorando o lado vulnerável do político: vaidade. Ricardo agradeceu a Cássio pela vitória – o abraçou em palanque após o triunfo – e sabiamente, demonstrando gratidão, reservou sem esconder do povo 11 das 21 Secretarias para serem ocupadas por “indicados” do Senador tucano ainda não diplomado pelo TRE-PB. A isca foi abocanhada. Durante três anos, provocado pela mídia palaciana (em missão) Cássio ratificou seu apoio à reeleição de Ricardo Coutinho.

Fevereiro de 2014 – exatamente como se comporta agora Veneziano Vital do Rêgo – o líder do Clã Cunha Lima anunciou rompimento com Ricardo Coutinho, e se lançou candidato. O governador, que tratava com desprezo o parlamento paraibano, sentiu-se ameaçado e mudou repentinamente seu comportamento. Começou conquistando Ricardo Barbosa (cozinha de Ronaldo) que vinha de três derrotas consecutivas como o candidato do poeta. Todos entravam: Tovar, Romero, Manoel Ludgerio… Sempre faltava a vaga de Ricardo, o eterno suplente (até então). Jogando como os velhos profissionais da Casa Epitácio Pessoa, chutou o pau da barraca – cobrou caro – abraçou-se com Coutinho e se elegeu. Nunca mais quis saber dos Cunha Lima.

Adriano Galdino explicava: “quem me trouxe para o governo de Ricardo foi Cássio. Se ele saiu sem motivos, não vou abandonar quem me prestigia”. A perda de “escudeiros fiéis” trouxe efeitos devastadores. Cássio lutaria contra veteranos, formados em seu próprio exército. Sua única chance de vitória seria no primeiro turno.

Governador João Azevedo esteve semana passada em Campina Grande, cumprindo uma extensa agenda político/administrativa. Em entrevista à rádio Correio FM, a pergunta que toda a Paraíba queria fazer não passou em branco pelos comunicadores que o entrevistaram: qual a razão ou motivos do rompimento de Veneziano? João Azevedo respondeu que até ele tinha curiosidade em saber. Competiria ao próprio Veneziano responder ao povo, e apontar os motivos. Estiveram juntos e se elegeram em 2018. Atendeu todas as suas reivindicações. Conversaram em janeiro, mas não houve abordagem sobre pretensões do Senador (2022).

Veneziano através da mídia (na época) comentou sobre o encontro: “a conversa foi inconclusiva” (?). Inacabada? Ansiedade (política) é um transtorno comum em aprendizes. Veneziano já é calejado… Começa a sentir os efeitos de seus impulsos, com a debandada do MDB em direção ao Palácio da Redenção.