
Valberto José
Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.
Aniversário e final de ano
Publicado em 26 de julho de 2024Vaidade, vaidade… Vai, vai idade, que não volta mais. É o que parece denotar, no seu canto de lamentação dolente e triste tal qual o fado, a sonoridade da palavra vaidade, diante da resistência humana à exposição numérica dos anos vividos. Lamento pela idade que se vai, lamento pela idade que vem. Cada um com sua idade, muitos com sua vaidade, e poucos com a veracidade do tempo percorrido.
Ao contrário de muitos, assimilo a velocidade do tempo sem a altivez de paliar a idade; também não desconsidero quem costuma dissimular ou subtrair numerais de sua existência terrena, pois é um jeito próprio de vivenciar a felicidade. Inquilina cativa do meu peito esquerdo arranjou uma desculpa divertida e diplomática de não expor sua idade. “Já menti tanto a idade que nem sei mais qual é a minha”.
Dia desses numa das lojas do bairro, ao pagar o produto que levava, o moço do caixa me agradeceu usando a hipérbole objetivando fidelizar o cliente sessentão. “Obrigado, jovem”. “Um jovem de 66 anos”, retruquei, rindo, entrando no clima. “Nem aparenta ter essa idade”, insistiu.
Depois, o profissional me desafiou, pedindo que eu dissesse a idade do seu patrão, que estava no caixa ao lado. “Não sei calcular a idade de ninguém, mas, como ele é um homem de aparência séria, que expressa certa jovialidade, não fez 69 ainda”, brinquei. A calvície acentuada confirma que ele tem 60 anos.
Gosto de comemorar o meu aniversário de acordo com as minhas condições e a minha simplicidade. O mesmo ocorre com o amigo Manoel, que presta serviço diferenciado na Feira Central e é responsável pelas poucas compras que por lá ainda faço. O feirante só lamenta que em casa ninguém nunca lhe preparou pelo menos um bolo, no dia em que avança, no calendário do tempo, um ano de vida.
Manoel ressalta que praticamente todos festejam a passagem do ano, e nem todos comemoram o dia de nascimento, pois considera a data mais importante de uma pessoa. Abstêmio por natureza, ia me responder como celebra seu natalício e o celular tocou. Deu um tchau alegre – outro cliente o chamava – e saiu correndo, pilotando sua carroça. Mais à frente, controlando um pouco sua pressa, volvendo a cabeça em minha direção, refletiu: Sem aniversário não tem final de ano.