Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

ANIMAL POLÍTICO

Publicado em 9 de agosto de 2023

O presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira, em entrevista exclusiva concedida ontem (08.08.2023) a TV Jovem Pan, teceu considerações sobre o futuro do governo Lula III e o destino do PT. Na sua visão, “Lula acerta ao copiar, erra ao inventar”.  

Com perguntas “venenosas”, a veterana Dora Kramer – ao lado de Cristiano Vilela – puseram em cerco o ex-chefe da Casa Civil do governo Bolsonaro, que não se acautelou em descrever o quadro de dificuldades enfrentado por Lula, ora emparedado pelo Congresso Nacional num espaço mínimo que não permite mais “manobras” procrastinatórias, capazes de adiar a entrega de parte expressiva do seu governo ao Parlamento, unido de forma suprapartidária para comandar os destinos da Nação.

Paradoxalmente, ficou perceptível que a briga de Ciro não gira em torno de ideologias (?). A peleja renhida é pela sobrevivência e fortalecimento das siglas. Admite que tem conversado com interlocutores do Palácio do Planalto sobre apoio à governabilidade. Entretanto, considera o ex-presidente Jair Bolsonaro a maior liderança do País – não importa se elegível ou não – e caminhará ao seu lado com o candidato ungido por ele em 2026. No momento, Tarcísio de Freitas ou Romeu Zema.

Usando uma linguagem direta – sem rodeios e com pragmatismo – Ciro antevê que apenas a Reforma Tributária será aprovada consensualmente este ano pelo Congresso. Justifica seu empenho no projeto, alegando tratar-se de um tema que não constava na pauta do atual governo. O texto que dormitava há décadas no Parlamento traz em seu bojo desejo da população por menos impostos, redução do Estado, e maior capacidade de investimentos do setor produtivo.

Paralelamente, CPI (MST) e CPMI dos atos de 08.01.2023 se aprofundam nas suas oitivas, expondo a fragilidade da base governista. Na sessão de ontem (CPMI), com duração de nove horas, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres – preso por quatro meses – com uma única frase desconstruiu toda a narrativa palaciana, pílula “dourada” pela mídia tradicional e militantes: “desconheço os motivos de minha prisão… Se os protocolos de segurança tivessem sido devidamente cumpridos, não teria ocorrido a invasão”. O argumento evidencia a negligência e facilitação proposital de alguém do governo, que ajudou na execução da depredação ocorrida nas sedes dos Três Poderes.

Neste intervalo – em rota de fuga – Lula reunido em Belém do Pará com chefes de Estados que compõem o biombo da Amazônia, em dois pronunciamentos inumou o objetivo da cúpula: “a Amazônia não será um santuário intocável do planeta… Não permitiremos que continue como um depósito de riquezas (inaproveitáveis?) …”. O Brasil detém 70% desta área. Suas palavras acenaram apoio ao agronegócio, e contraditoriamente deixaram pistas sobre a exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas. O fiasco do encontro estava previsto pela ausência do presidente da França, Emmanuel Macron, que representa o Suriname, considerado “União Europeia”.

A carta – protocolo de intenções – subscrita pelos participantes é considerada como “percurso de Jet ski”: vai do nada, a lugar nenhum. O presidente da Colômbia propôs o fim imediato da exploração de energia fóssil (petróleo e gás natural) em toda a região, pilar de sustentação do discurso progressista. A ministra Marina Silva (Meio Ambiente) criticou seu próprio governo, alegando que cartas e mais cartas não resolvem o problema, que requer ação. O ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) escondeu-se da mídia internacional, que o sopesou como algoz do meio ambiente.

Mesmo diante de todas as adversidades, subestimar o instinto de sobrevivência do “animal político” Lula, é devaneio de amadores. Com todo respeito à experiência do Senador Ciro Nogueira – asseverando que o PT não elegerá ano vindouro nenhum prefeito das vinte e seis capitais dos Estados – inclusive as do Nordeste – Lula não tem dificuldades em se aliar aos seus maiores rivais, para que o deixem concluir seu mandato. Se o preço cobrado for o fim de sua legenda, imitará sem pestanejar Tarás Bulba (personagem do Romance de Nikolai Gogol) que matou seu filho predileto em combate, e em seguida bradou: “só eu que te dei a vida, tenho o direito de tirá-la”. Chega de perder dedos. Que se vão os anéis, e fiquem os nove restantes.