

Valberto José
Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.
A simbologia da camisa que dei ao neto
Publicado em 19 de fevereiro de 2025Naqueles anos em que o calor de torcedor apaixonado ardia no meu peito, os clubes não haviam despertado à estratégia de marketing esportivo, visando o lucro na exploração de suas cores. Essa cegueira comercial contribuiu para a encomenda da camisa com que costumava ir ao estádio até meus 20 e poucos anos e que guardei por mais de 40, após optar por uma imparcialidade excessiva, pois até caseira, como profissional.
Adquiri o manto convencido pela lábia da cliente morena que atendia no açougue do tio, em José Pinheiro, e ela nem precisou gastar muita saliva. “Pelo material, essa camisa vai durar muito”, pensei, além da certeza de não encontrar produtos oficiais. Prevalecia, naquele tempo, as camisas das torcidas organizadas.
Fiz a encomenda e, na semana seguinte, a camisa de crochê – listada horizontalmente nas cores preta e vermelha, mas sem escudo – fez sucesso junto à turma que costumava se formar durante os jogos no lance da arquibancada sombra em frente às cadeiras. Não lembro o adversário e nem o resultado, se o trabalho da artesã do “Zepa” deu sorte ou não.
Usei a camisa por poucos anos, pois logo a engavetei, quando iniciei no Curso de Comunicação, já pensando em ser repórter esportivo e, como tal, trabalhar com imparcialidade. Guardei-a na minha gaveta de nosso guarda-roupas por quase 45 anos, quando, há dois, a dei de presente ao primeiro neto.
Aliás, pesou na decisão de presentear Miguel a coincidência de Gustavo, o meu genro, ter a mesma simpatia clubística que eu. Ao contrário, teria permanecido com ela, mantendo-a na minha gaveta da saudade. Acho que apenas os pais devem influenciar na opção de torcedor do filho. Se não houver interesse nessa influência, é que outro parente ou amigo deve agir.
Certamente meu neto nunca vai usar essa camisa, pois vai preferir as oficiais lançadas todo ano. Espero, entretanto, que a filha vista no menino quando couber e se ele simpatizar mesmo pelas cores do meu time, pelo menos para tirar uma foto.
Como presente, a camisa carrega uma simbologia muito forte, além de ser uma maneira de ajudar o pai na sua determinação de fazer o herdeiro a torcer pelas mesmas cores que ele. Na prática, já deu o primeiro passo, levando-o ao estádio. E o menino foi pé-quente.