
Valberto José
Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.
A revolta do copo desviado
Publicado em 12 de setembro de 2023Apreciador de uma boa cachaça e daqueles que preferem o copo “engana bêbado”, tenho uma pequena coleção do recipiente apropriado a essa bebida na exiguidade de um espaço no armário da cozinha. Todos chegaram a mim pela generosidade de quem conhece o gosto do meu paladar e o ritual que costumo fazer ao degustar o líquido, em forma de presente.
Desde que me casei – em outubro próximo comemoramos Bodas de Coral – costumo manter ao meu alcance diário pelos menos meia dúzia de copos caracterizados com o fundo grosso. A coletânea caseira atual é formada por 15 unidades, das quais apenas duas eu comprei (essas, feitas artesanalmente de madeira), encantado que fiquei pela novidade que vira na última edição do Salão do Artesanato.
A formação do acervo, em si, teve início quando uma sobrinha de Margarida viajou a São Paulo e de lá me trouxe meia dúzia de recipientes apropriados à cachaça. Não típico desses que nos levam ao fenômeno da ilusão de ótica, todavia, as frases contidas em seu redor animam qualquer apreciador ou tira a culpa de quem exagerou nas doses.
Uma dupla da pequena coleção foi presente da filha Morgana, adquirido num passeio ao Rio de Janeiro e ornado com gravuras do Cristo Redentor e do Estádio do Maracanã. Completam a coleção um de barro, lembrança de um sobrinho quando estudava em Pombal, e outro com a marca MM, recordação dos 70 anos do maior tomador de Rainha que conheço, depois do saudoso Zequinha, primo de minha mãe e pai de Fidélia.
O preferido de todos virou saudade, o caballito, vindo do México, próprio para tomar tequila, presente de Nena, a sogra da filha. Do tipo “engana bêbado”, só que fino e comprido na altura, mas de espessura de vidro grossa, adaptara-se bem aos meus dedos. Ao lavá-lo, escorregou-se de minhas mãos, espatifando-se, sem dose de piedade, no mármore negro da pia.
Sem o caballito, o “Maracanito” passou a ser o predileto. É justamente o que tem em sua circunferência a gravura daquele que era o maior estádio do mundo. Já tirei fotos dele e as enviei aos amigos com a legenda: hoje, um Maracanã de cachaça.
Esse copo querido ficou rebelde, revoltou-se ao ser usado inapropriadamente. Em junho último, o cunhado Jajá veio de São Paulo nos visitar, usou-o com umas doses, e depois, ao “lavar” com cerveja, serviu nele cerveja à mulher Sônia. Não é que o “Maracanito” sentiu o “choque térmico”, e a gravura começou a desbotar.
FRASES DE COPOS
Na semana do Dia da Cachaça, 13 de setembro, vale ler as frases contidas em seis copos da minha coleção.
- Quem não aguenta, bebe leite
- Para evitar a ressaca, mantenha-se bêbado
- Quem não bebe não vê o mundo girar
- Se for dirigir não beba, se for beber me chama
- Chove lá fora, aqui dentro só pinga
- Bebo porque é líquido, se fosse sólido eu comia
VALE A PENA LER DE NOVO
A pedidos, republico o último parágrafo da coluna “A dor de um pai safenado”, publicada no dia 8 de agosto.
“Ouvindo a mana narrar o sentimento paterno, a saudade, que parece ser feita de água, foi inundando todo meu ser. Aí, reunidos tantos irmãos naquela mesa de fartura, faltando meu pai, faltando meu filho, transbordei minha saudade pelos olhos, descendo pela face… e enchendo os pratos de prantos.”