Valberto José

Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.

A orientação do padre e o conselho de um candidato

Publicado em 27 de setembro de 2022

Cheguei à maioridade civil no ano de 1976, a apenas quatro meses de exercer o direito de cidadania do voto, já sob intensa reflexão sobre estratégias políticas de eleições passadas. Ainda teimava dentro de mim a sensação de espanto pela orientação de um padre aspirante a um cargo e de fascínio pelo conselho de um candidato ao renegar o voto em branco.

De modo que, na primeira votação, já tinha consciência de que o voto é livre, pessoal e secreto (se assim o eleitor quiser); e que o votante deve conhecer os candidatos, analisar suas propostas e refletir para poder escolher. Também me intrigava saber que, numa democracia, o voto é obrigatório.

Naquele ano, estava de volta a Campina Grande após a adolescência em solo sertanejo. Lembro de pelo menos dois pedidos para que votasse em determinado candidato a vereador, um dos quais de um colega do Estadual da Prata, também morador do bairro da Liberdade.

Sem precisar de remédio, nem de favor, o meu sufrágio foi decidido numa farmácia. Residindo temporariamente na casa de uma tia, à rua Espírito Santo, ela pede para eu ir à Farmácia do 40; lá, o panfleto de um candidato mostrava o que ele fora, já fizera e algumas de suas propostas. A biografia de Mário Araújo mereceu o meu primeiro voto.

Nas eleições municipais de 1972, em Patos, disputavam a prefeitura local os candidatos Aderbal Martins, padre Levi e Durval Fernandes. Popularíssimo na região, o polêmico vigário sabia como poucos mexer com o eleitorado, usando expressivo marketing pessoal na sua campanha.

Sem dinheiro para gastar e vislumbrando a compra de votos pelos adversários, o padre instruía os eleitores a receber tudo que lhes dessem – tijolo, telha, cimento, remédios etc. Desde que na cabine eleitoral votassem nele.

“Ferre o boi e vote no padre”, eis o lema de Levi. Como é que um sacerdote instiga o povo à falsidade, deslealdade e desonestidade, pensava eu. Aí me lembrava que ele estava político.

Nas eleições de 1974, quem me surpreendeu foi Rui Carneiro, que buscava o quarto mandato no Senado Federal. Num comício em Patos, ele condenou o voto em branco de forma tão radical, que aconselhou o eleitor a votar no concorrente. “Vote no adversário, mas não vote em branco”, enfatizou.

Fiquei impressionado com a atitude verbal do candidato, talvez até sem entender sua estratégia. Desde então, procuro não votar em branco, nem anular o meu voto. Não é que Rui Carneiro foi reeleito e só a morte o tirou do Senado, três anos depois? Quanto ao padre, ficou marcado pelo ferro quente da derrota.