Vanderley de Brito

Historiador, arqueólogo, genealogista e atualmente é presidente do Instituto Histórico de Campina Grande (IHCG).

A morte e a eternidade de Félix Araújo

Publicado em 8 de março de 2022

Na tarde do dia 13 de julho de 1953 a cidade de Campina Grande estava em alarido, uma multidão curiosa se aglomerava para ver num canto de calçada da Rua Maciel Pinheiro, no centro da cidade, o jovem vereador Felix Araújo agonizante estendido no chão, esvaindo em sangue, com o rosto pálido, a respiração opressa, o beiço decaído e o olhar parado.

Levado às pressas para a Casa de Saúde Dr. Brasileiro, por uma discussão política o moço sofrera um tiro à queima-roupa, e o caso era grave: o projétil lhe perfurou um pulmão e se alojou no flanco direito. Por quatorze dias o jovem vereador ficou internado, passou por cirurgias e, durante o período de convalescência hospitalar, a cidade inteira acompanhava com comoção os boletins de seu estado de saúde. Sua agonia foi longa e cruel. Ficou paralítico devido a bala lhe ter atravessado a medula espinhal. Por vezes a consciência lhe retornava e, entre delírios, pedia que avisassem a Dr. Elpídio de Almeida que desse amparo a sua mulher. Algumas vezes, como por milagre, ele refluía lúcido e esperançoso, desejando curar-se, mas no dia 27 de julho de 1953 os efeitos do ferimento se agravaram, ele ardia em febre e esvaía-se na via da morte. Expirou nesta data, em leito hospitalar.

A força de presença do jovem vereador e poeta era tão pulsante na cidade que a sua morte causou profunda consternação e revolta da população, pois ele tinha energia e um talento genial para se tornar um dos maiores líderes políticos que Campina Grande já viu. De todo modo, a sua partida prematura, trágica, estrépita e de cunho político, lhe alçou à categoria de mito e mártir e nenhum outro vulto da história da Rainha da Borborema recebeu tantas homenagens públicas, com seu nome dado a logradouros, escolas, a biblioteca municipal e até a Câmara dos Vereadores, que foi nominada como Casa de Félix Araújo. Como um refrão contagiante, não há em Campina Grande um nome tão sonoro e redundante quanto o de Félix Araújo.

Nascido em 1922, neste ano de 2022 a cidade homenageará o seu ano centenário, que foi oficialmente aberto na noite de 21 de dezembro último (véspera de seu aniversário de 99 anos) em evento no hall do Teatro da Facisa pelo Presidente do Instituto Histórico de Campina Grande (que epigrafa estas linhas). Na ocasião foi lançado o selo oficial do centenário (também elaborado por mim) e foi lida a programação do Instituto Histórico para rememorar a vida de Félix no correr do ano. O primeiro ato de homenagem do Instituto Histórico será no dia 08 de maio, dia da vitória das forças aliadas contra a Alemanha Nazista, quando promoveremos um evento no 31º Batalhão de Infantaria Motorizado em homenagem ao Félix pracinha e ex-combatente da Segunda Guerra Mundial. O segundo incenso será na data de seu falecimento, quando se encomendará missa na Catedral de Campina Grande em intenção à sua alma. Para o dia 31 de agosto, durante a III Semana Elpidiana, evento anual do Instituto, promoveremos uma mesa redonda para tratar da relação de amizade entre Félix e Elpídio de Almeida e, enfim, no dia 24 de outubro realizar-se-á em nosso auditório a cerimônia de posse da cadeira de Félix Araújo no IHCG, vaga que será preenchida por seu progênito, o confrade Félix Araújo Filho. Nessa ocasião também será inaugurada nas dependências do Instituto Histórico a livraria Félix Araújo, que terá um busto do homenageado.

Esta será apenas a programação orquestrada pelo Instituto Histórico, pois outras instituições, como a Academia de Letras de Campina Grande, a Secretaria de Cultura do Município, a Fundação Artístico-Cultural Manoel Bandeira (FACMA) e a Câmara Municipal de Campina Grande, entre outras, também promoverão eventos para o ano centenário de Félix Araújo, que se encerrará na data de seu aniversário de cem anos, dia 22 de dezembro de 2022.

Félix Araújo retirou-se cedo do espetáculo da vida, como um súbito enxurro de verão, porém seu nome e seus feitos serão rememorados neste ano, não como uma espécie de dobre de finados, mas sob a chancela de um selo de louros, insígnia que representa sua extensão de eternidade.