Júnior Gurgel
Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.
A FARRA DO BOI
Publicado em 20 de setembro de 2024O debate realizado ontem na TV Manaíra, entre os quatro principais candidatos a prefeito de João Pessoa, se transformou numa versão análoga à extinta “Farra do Boi”, evento realizado em Santa Catarina, proibido nacionalmente de acordo com o artigo 23 da Lei nº 9.605/1998, pelo seu grau desumano de sadismo e tortura imposto a um boi, que só encerrava com a sua morte por exaustão. A duração da festa chegava a três dias.
O prefeito Cícero Lucena, que viveu ontem um dos piores dias de sua existência, encerrou a noite como o “boi”, exposto diante das câmeras da TV Manaíra, impiedosamente torturado por seus adversários, a partir dos eventos da prisão de sua correligionária, vereadora Larissa Lacerda, e a publicação subsequente no Portal de Notícias UOL denunciando sua filha – Secretária da Saúde – envolvida com o crime organizado, usando a máquina pública para beneficiar membros da ORCRIM “Alcaida”, escalados para garantir os votos dos habitantes das favelas da Capital. População vulnerável, aterrorizada pelo medo, refém destes criminosos, tinha a missão de impedir a entrada dos demais candidatos nestas comunidades, e obrigar toda sua população a votar na reeleição do prefeito Cícero Lucena.
Em nenhum momento Cícero negou ou encontrou respostas para justificar as ações de Larissa Lacerda e sua filha. As estocadas de Ruy Carneiro eram as que mais machucavam Cícero. Foram aliados no passado, Ruy compôs a equipe de secretário do primeiro mandato de Cícero, quando ele foi preso na operação “Confraria” realizada pela PF. Quase todos os seus secretários (da época) foram investigados, ou citados no inquérito. A exceção foi Ruy Carneiro.
A primeira pergunta de Ruy a Cícero foi um apelo. “Realize sua maior obra renunciando hoje seu mandato, que fará um grande bem a João Pessoa”. O “boi” se defendeu e desferiu um coice: “você (Ruy) não deveria estar aqui. Seu lugar é na cadeia, cumprindo a pena que o Juiz o condenou a 20 anos por corrupção, período em que serviu ao governo do Estado como secretário da Juventude, Esportes e Lazer. O processo ainda está tramitando na Justiça, até o “trânsito julgado” inocentá-lo. Até lá, terá que carregar consigo a “pecha” de corrupto condenado em primeira instância.
Luciano Cartaxo contestou todas as obras e ações divulgadas pela publicidade oficial da atual gestão Cícero Lucena, com algumas provas, como por exemplo a construção de creches, postos de saúde e escolas, que esbarraram na expedição da ordem de serviços. Nos locais, tapumes escondem terrenos baldios. Destacou que quando esteve prefeito, em seus dois mandatos, a PF nunca esteve na prefeitura. Já nas gestões de Cícero, é comum ou até rotineira a presença da PF realizando buscas e apreensões não só na sede do município, mas na residência do próprio prefeito e seus principais auxiliares. Aconselhou Cícero, como pai, a poupar pelo menos sua família e exonerar sua filha, evitando que todos terminem como condenados e na cadeia.
Marcelo Queiroga se deliciava com tudo que estava acontecendo. Contra ele não existe nenhuma investigação, sequer o registro de um BO. Quando Ruy tentou cercá-lo, o troco foi: “você é um condenado de Justiça”. Luciano Cartaxo apenas o chamou de “Bolsonarista”. Marcelo reagiu indagando os motivos de sua volta ao PT e perguntou se Lula o conhecia. Calou Cartaxo. E Cícero, que tentou desqualificá-lo como gestor, levantou a bola de Marcel. Exibiu seu período de Ministro da Saúde no pior momento do país, pandemia do COVID-19. Não o poupou por ter fechado ruas e comércio da Capital ao lado do governador. Tirou muitos cidadãos do mercado de trabalho, e faliu centenas de pequenos negócios. Já ele (Marcelo) como Ministro, enviou auxílio emergencial de R$ 600 a 1.200 para toda a população da Capital, e socorreu milhares de pequenos empreendedores individuais, que atuavam no mercado informal.
Marcelo ao envolver o governador, fica a pergunta no ar: a responsabilidade da segurança do Estado é do governo. João Azevedo já exonerou hoje o Secretário da pasta e toda a hierarquia que administra o complexo dos presídios? Afastou o comandante da PM, e determinou instauração de sindicância para apurar o grau de envolvimento da tropa com a bandidagem, que opera o tráfico dentro do seu escritório, por trás das grades? Continuará aliado de Cícero Lucena? Irá defendê-lo, o que no momento parece ser indefensável? Se não cuidar de sua própria imagem, poderá ser confundido como outro “boi” nesta farra, que só termina em 06/09/2024.