Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

A DESESTABILIZAÇÃO DA AMÉRICA LATINA

Publicado em 29 de julho de 2024

O golpe de Estado promovido ontem (28/07/2024) na Venezuela, sem o uso de armas – fraudando mais uma vez o processo eleitoral – traz consequências danosas a toda América Latina, que pode tomar o rumo da violência e culminar num grande derramamento de sangue na região. Apesar da opinião unânime dos meios acadêmicos – cientistas políticos e sociólogos – descartarem revoluções armadas no cone sul, o instinto primitivista pela sobrevivência transforma o homem, suas tradições e crenças, em animais irracionais da pré-história.

No discurso de Nicolás Maduro ontem à noite, seu primeiro agradecimento foi a “Guarda Revolucionária Bolivariana”, uma organização paramilitar política semelhante às “SS de Hitler”, que se posicionou acima da Wehrmacht (Exército Oficial da Alemanha).

A Guarda Revolucionária Bolivariana tem 2.500 generais. Somando todos os Exércitos da segunda guerra, de todos os países envolvidos, não atinge este número de generais. Seu efetivo é o triplo do Exército Oficial da Venezuela. Comanda o Serviço Secreto e dispõe de mais armas (modernas) que as Forças de Segurança Constitucional. Cerca de 80% dos seus integrantes são cubanos.

Já existem oito milhões de venezuelanos espalhados pela América do Sul. Estima-se que após o golpe de ontem mais oito milhões deixem o país, para escapar da fome. Virão para o Brasil, Colômbia, Chile, Panamá e, de preferência, Estados Unidos. Tomam os empregos dos nativos destes países, pela oferta barata da mão-de-obra. Cada venezuelano empregado, desemprega automaticamente um brasileiro, americano, argentino, chileno. Os Estados Unidos construíram o muro, e a tendência é fechar a fronteira depois que perceberam dados alarmantes como: subiu nos últimos três anos, de 16% para 19,5% a mão de obra ocupada por refugiados. Aumentou significativamente o número de desempregados norte-americanos. Não são refugiados políticos, são fugitivos da fome em seus países, onde impera a corrupção, drogas, crime banalizado e controle do Estado, dominado por minorias privilegiadas, com padrão de vida nababesca, que usam o discurso da fome, socialismo e igualdade, para se manterem no poder.

O cinismo de Nicolás Maduro em citar um ataque cibernético terrorista na transmissão dos dados, diante das provas de apenas 40% dos BU (Boletins de Urnas), onde a oposição aparecia com 70% dos votos, contra a situação, ficou evidente uma derrota acachapante do ditador. O semblante dos membros da CNE (TSE/Brasil), tensos, desconfiados e cabisbaixos, no momento de divulgar um resultado parcial de 80% das urnas, conferindo a Maduro 51% dos votos, e o candidato da oposição com 44% foi tão desastroso que erraram até nos números. Se os demais candidatos obtiveram apenas pouco mais de 400 mil votos, como abrir uma vantagem de 7% sobre a oposição? Maduro com 5,1 milhões de sufrágios, e a oposição com pouco mais de 40% (?).

O descaramento do presidente do CNE afirmou – com bola de cristal – que a tendência era irreversível, e consagrou Maduro como presidente, faltando ainda 20% do resultado das urnas, cujas transmissões não haviam chegado à central das apurações. Para ser atestado vitorioso, os BU têm que ser confrontados com os dados produzidos pelas máquinas. A fraude no Brasil em 2014, reelegendo Dilma – na época vaiada até na abertura da Copa do Mundo – e não conseguindo aparecer em público, o “apagão” foi de 50 minutos. Quando retornou, 98% das urnas já tinham sido apuradas e Aécio Neves, que vinha vencendo, perdeu. Na Venezuela, o apagão durou duas horas e meia. Mesmo assim apresentaram apenas um resultado “parcial” de 80% das secções votantes.

As fronteiras estão fechadas por terra, mar e ar. As lideranças de oposição do país estão proibidas de deixarem a Venezuela. Criarão uma “narrativa” para prenderem todos, ou aceitarem Maduro na presidência para sempre. Toda ação tem uma reação. A América Latina iniciará um processo de desestabilização, se não isolar e punir com sanções comerciais a Venezuela.