Júnior Gurgel
Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.
A DERROTA DE HENRIQUE E A VITÓRIA DO CONGRESSO
Publicado em 13 de agosto de 2024O deputado federal Henrique Eduardo Alves – um dos fundadores do MDB/RN com onze mandatos ininterruptos – esteve quarenta e quatro anos no Parlamento, recorde dividido com Ulysses Guimarães. O potiguar, ainda imberbe aos 23 anos, conquistou seu primeiro mandato em 1970, em plena vigência do AI-5, após a cassação do mandato de seu pai Aluízio Alves, (1968) ex-governador, deputado federal na época, pertencente aos quadros da ARENA, partido do governo.
Durante este longo período Henrique passou por todas as Comissões Temáticas da Câmara, chegando a presidir as principais. Influente entre seus pares, conquistou a liderança do seu partido (PMDB), num dos momentos mais importantes da recuperação do prestígio da legenda, que indicou Michel Temer, seu amigo pessoal, vice-presidente – eleito e reeleito – em seguida, sucessor de Dilma Rousseff, após seu impeachment.
Para os pirrônicos, céticos e ateus, que não acreditam nos desígnios divinos – muito menos no destino – a história de Henrique merece reflexões. Por duas vezes foi candidato a prefeito de Natal (RN), com absoluto favoritismo. Perdeu as duas campanhas pela rebeldia desagregadora de sua irmã gêmea, Ana Catarina Alves, que se prestou ao papel de ser postulante alternativa da oligarquia Maia, sabendo que estava sendo usada para provocar um segundo turno, arruinando o triunfo de seu irmão.
Resignado, Henrique não admitia mais discutir disputas majoritárias no RN. Presidente da Câmara dos Deputados, Lula o incentivou a ser candidato a governador. Resistente, não deu um passo nessa direção. Todos os partidos do RN o lançaram. Ficou fora apenas o PSD, comandado pelo presidente da Assembleia Legislativa, Robinson Farias. Fátima Bezerra, candidata ao senado pelo PT, se recusou a subir em seu palanque. Lula pedia votos para Henrique, Dilma Rousseff pedia para Fátima e mandava dinheiro para ela e Robinson. Henrique foi mais uma vez derrotado numa campanha imperdível, no segundo turno. Traição do PT. Era presidente da Câmara dos Deputados e ficaria pela primeira vez, em 44 anos, sem mandato.
Entretanto, antes de deixar o cargo, salvou o Brasil. Talvez esta tenha sido a missão que o destino havia lhe reservado, e ele nunca enxergou. Teve a coragem de bater de frente com o “sistema” e aprovar a PEC das emendas impositivas. Uma carta de alforria para os deputados, que viviam de pires na mão humilhados por ministros e distantes do Palácio do Planalto. O país quebrou. O PIB de 2016 foi – 6%. Todo o crescimento acumulado nos últimos trinta anos tinha descido pelo ralo. Independentes, os deputados votaram o impeachment de Dilma. Senão, a liberação das emendas contingenciadas no último instante teria mantido a ex-presidenta no cargo.
E não fosse a ação de Henrique, valorizando o Poder Legislativo, a Venezuela hoje seria o Brasil. Michel Temer ao assumir “despetizou”, numa primeira canetada, mais de 3 mil cargos, acima de 10 mil reais, militância que nunca trabalhou. A reforma trabalhista inseriu no mercado de trabalho milhões de profissionais que se tornaram autônomos (MEI). Acabou o Imposto Sindical, cortou bilhões de reais destinados às ONG. Repatriou dezenas de bilhões de dólares, depositados no exterior, por não confiarem na economia do país. Criou a Lei da Governança das Estatais, salvando a Petrobras, Eletrobrás, dentre outras mais de 120 empresas estatais ainda vivas. Suspendeu contratações e concursos públicos por dez anos, e criou a Lei do Teto de Gastos.
Como estaria o Brasil hoje, sem essas reformas? Igual ou pior que Cuba. Toda a classe média no Bolsa Renda. O brasileiro com um salário, sem poder aquisitivo, deixava o país sem consumo, por conseguinte sem receitas (impostos). O BNDES, usando critérios ideológicos, continuaria enviando centenas de bilhões de dólares para países caloteiros, financiando obras para os “campeões” – grupo de picaretas laranjas surgidos na era lulopetista – testas de ferro de uma legenda que queria se perpetuar no poder. O Congresso e o país devem sua sobrevivência à “mística” missão cumprida por Henrique.