Valberto José

Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.

A casualidade de um dia petista

Publicado em 31 de março de 2024

Não nasci vocacionado à prática da militância política. Também não nutro qualquer entusiasmo nas campanhas que acontecem de dois em dois anos, mesmo que já tenha escolhido os candidatos em que devo votar no cumprimento do meu dever de cidadão brasileiro no dia do pleito. Da ação de votar, eu não abro mão, e o faço de maneira silenciosa, sem me deixar influenciar ou tentar influenciar o próximo.

Por convicção, evito votar em branco ou anular o voto. Na eleição proporcional, se não encontro um candidato merecedor do meu sufrágio, uso o direito do voto de legenda; em caso de opção, fico atento ao desempenho caso o sufragado seja eleito. Se não corresponder, na eleição seguinte não terá a minha preferência na solidão da urna.

Na opção pelo jornalismo, fui determinado a não trabalhar cotidianamente na editoria de política nem de polícia. Em situação extra, trabalhei na cobertura de apurações de eleições; de plantão, tive que reportar a morte de um político, ex-vice-governador, além de produzir matérias policiais, uma das quais sofrendo a dor do assassinato de um primo em segundo grau.

Em que pese essa minha aversão a atividade política, vivi, nos meus 20 e tantos anos, a sensação de um ativista político, e como tal teria corrido sérios riscos de prisão, se o calendário desse dia fosse de alguns anos antes. O fato aconteceu em 1981.

Recém-entrado no Curso de Jornalismo da então URNE, fui convidado pelo amigo Jurandy França a conhecer seus familiares e assistir a uma peça teatral na escola agrícola de Bananeiras. Cumprida a programação cultural, voltamos para dormir na casa do amigo em Arara.

O Brasil já vivia sua abertura política, e o Partido do Trabalhador era realidade e começava a se expandir pelo interior. O que eu não sabia é que o hoje advogado paulistano já segurava a bandeira do ativismo político, sendo um dos fundadores do PT na cidade. Naquela manhã, inesperadamente, chegara uma turma petista composta por Xangai, Chevete e Cristina, além de outros que não recordo o nome, com a missão de organizar diretórios na região.

Resolvido os trâmites em Arara, Jurandy França completaria a caravana que seguiria para Serraria e Borborema. Não é que eu, convidado, acompanhei os “companheiros” nesse giro, nos deixando – eu e o futuro candidato do partido a prefeito de Arara em 82 – na entrada de Solânea. Tudo bem! A aventura foi boa, abertura política era realidade, mas se fosse no auge da ditadura militar, talvez tivesse sido preso, torturado, ou não estaria aqui contando essa casualidade comprometedora.