Marcos Marinho
Jornalista, radialista, fundador do ‘Jornal da Paraíba’, ‘Gazeta do Sertão’ e ‘A Palavra’, exerceu a profissão em São Paulo e Brasília; Na Câmara Federal Chefiou o Gabinete de Raymundo Asfóra e em Campina Grande já exerceu o mandato de Vereador.
A ‘BARSA’ DE CAMPINA GRANDE
Publicado em 30 de novembro de 2022A geração de agora pode até achar que me refiro a algum palavrão, mas a de duas décadas atrás, pelo menos, com certeza terá grande alegria em ouvir e lembrar de “Barsa”.
Na verdade, a Barsa ainda existe e se presta ao mesmo importante serviço de outrora: ajudar a Humanidade a ter conhecimento.
É certo que parcialmente já foi engolida pelo ‘doutor’ Google, essa ferramenta indispensável da juventude e de muita gente por aí que não consegue mais viver fora do mundo instantâneo da internet.
A Barsa foi uma enciclopédia criada no Brasil e posteriormente comprada pela espanhola Editorial Planeta, que a traduziu para o espanhol e a vendeu em quase toda a América Latina no ano 2000.
Sua primeira edição foi lançada no Brasil em março de 1964, e a última em 2010, quando vendeu apenas oito mil, número 15 vezes menor que os 120 mil vendidos em 1990.
Idealizada em 1959 por Dorita Barrett, herdeira da família Barrett, detentora da Enciclopédia Britânica, a Barsa foi a primeira enciclopédia brasileira, desenvolvida por um corpo editorial brasileiro formado, dentre outros ilustres, pelo enciclopedista e tradutor Antonio Houaiss, o escritor Jorge Amado, o arquiteto Oscar Niemeyer e o jornalista e escritor Antônio Callado como redator-chefe da primeira edição.
O nome Barsa é uma combinação entre os sobrenomes do casal Dorita Barrett (Bar) e seu marido, o então diplomata brasileiro, Alfredo de Almeida Sá. Até então, no mercado brasileiro só era possível encontrar enciclopédias em inglês, alemão ou francês. Dorita, vivendo no Brasil, recusou a ideia de promover uma tradução, para o português, do original (a Enciclopédia Britânica). A leva inicial, de 45 mil exemplares, esgotou-se em oito meses.
Desde então, a Barsa enfrentou épocas pouco favoráveis, como quando, nos anos 1990, o público se deixou seduzir por mídias como disquete e CD-ROM, ou antes ainda, na década anterior, quando apareceu o videocassete.
Segundo o redator-chefe da primeira Barsa, Antonio Callado, havia duas maneiras de fazer enciclopédias: uma delas seria a da enciclopédia “informativa”; a outra, da “persuasiva”. A primeira oferecendo ao leitor a maior quantidade possível de conhecimentos produzidos pela humanidade até o momento de sua publicação; a segunda, trazendo os mesmos conhecimentos, mas principalmente voltada para a transformação do leitor.
Segundo a Wikipedia, a primeira Barsa era uma espécie de híbrido, pois era informativa, mas também pretendia uma difusão de ideias que estavam na vanguarda do conhecimento e que eram apresentadas sob o aspecto autoral. Dessa forma, a Barsa usou um recurso já utilizado por outras enciclopédias: divulgar as ideias dos grandes pensadores solicitando que os mesmos as escrevessem. Assim, o primeiro texto sobre psicanálise publicado na Enciclopédia Britânica foi produzido pelo próprio Sigmund Freud. Da mesma maneira, a primeira Barsa contava com verbetes feitos por intelectuais brasileiros renomados.
E por que danado eu estou hoje lembrando da Barsa que não pude ter na estante lá de casa?
A resposta faço logo questão de dar ao meu ávido leitor: por culpa de dois seres raros que orbitam em nossa amada Campina Grande e convivem – outra raridade – com o moderno e o telúrico como se isso fosse algo mais do que normal, prático e necessário.
Dois humanos, digo logo para afastar a curiosidade do leitor sobre a possibilidade de tais criaturas de carne e osso serem confundidas com algum sobrenatural extraído das profundezas da arqueologia pátria, em que um deles é especialista.
Semana passada recebi, em minha casa, a prazerosa visita de um notável amigo-membro dessa dupla incansavelmente prestativa, o professor-mestre-arqueólogo-artista plástico-historiador Vanderley de Brito, que vem a ser o gigante presidente do nosso Instituto Histórico e Geográfico de Campina Grande (IHCG), entidade que merece de todo campinense o melhor dos aplausos.
Veio sozinho, humilde como são todos os intelectuais de escol que eu conheço, pilotando uma moto já alquebrada pelos anos de rodagem e, ele próprio, calçando sandálias de couro feito um franciscano lá do Convento Ipuarana. Me avisara do encontro, com objetivo de presentear-me com coleção dos jornais do IHCG, que edita ao lado de Ida a cada mês rodando em gráfica de custo baixo no vizinho Município de Queimadas para manter acesa a chama do instituto e divulgar a história presente da Rainha da Borborema com as tintas da verdade e da pujança locais.
Fazer jornal não é coisa fácil, posso dizer com a autoridade de quem disso se ocupa há mais de meio século. Mais ainda nesse caso particular onde o mestre é o ‘faz-de-tudo’: repórter, redator e revisor; diagramador e ilustrador; fotógrafo e chargista; vendedor e relações públicas…
Eu não diria que Vanderley chega a ser um louco porque o tenho na condição de um gênio mesmo, desses que não tem a menor disciplina para com o seu tempo e o usando como se fosse eterno não tá nem aí para os prazeres mundanos do bem estar pessoal e particular.
O homem é múltiplo!
O vejo em todas (todas, mesmo!) as solenidades públicas aonde o IHCG é convocado: missas e cultos religiosos; velórios e funerais; inaugurações de obras e de eventos públicos; cantorias de viola e concertos de filarmônicas; sessões de Legislativo e de entidades de classe…
E ainda encontra tempo para pintar quadros, escavar achados arqueológicos, visitar entidades congêneres País afora, escrever artigos para APALAVRA e para o jornal A UNIÃO. E, como agora fez comigo, dar a alegria de abraçar um amigo em pleno domingo quando poderia ficar em casa espichando o esqueleto para enfrentar mais leve as agruras da semana seguinte.
Mas isso é assunto para outro artigo, quem sabe lá na frente depois de tomarmos – na companhia de Ida – outro cafezinho pelas paragens da Fazenda Muçambê, onde gratificantemente estive quarenta anos atrás com Sevy Nunes recebendo a esplendorosa acolhida de Doutor Humberto sob o mugido matinal do seu premiado plantel de gado Guzerá.
Aqui estou a lembrar da Barsa – a enciclopédia – e só. Porque, como disse lá no introito, por máxima culpa de Vanderley e de Ida.
Mestre Vanderley além de me presentear a coleção de jornais do IHCG fez mais e deu-me, retirando levemente de um saquinho verde, uma ENCICLOPEDIA que a partir daquele domingo mesmo eu botei em estante do escritório e passei a chamá-la de MINHA BARSA, fechando para mim agora um círculo maravilhoso que não pude completar com aquela Barsa que somente ricos poderiam ter e que não era exatamente o caso desse filho paupérrimo de Seu Ovidio e Dona Virgilia.
Pois saiba você, amado leitor, o livro de autoria de Vanderley de Brito e Ida Steinmuller, ao qual eles deram o nome de HISTÓRIA DE CAMPINA GRANDE (DE ALDEIA A METRÓPOLE) é muito mais: é a Enciclopédia de Campina Grande!
Não pode faltar na casa de nenhum filho de Campina Grande, uma vez que nele (melhor nela, a ENCICLOPEDIA de um só volume) a gente encontra resposta para toda a grandeza deste chão que tanto nos enche de orgulho. Um trabalho de fôlego, de gênio, de almas gratificadas pela força divina, que é a paga certamente dada aos seus magníficos autores.
Sugiro ao ilustre prefeito de Campina Grande, que é nosso confrade como sócio também do IHCG, autorizar o jovem neto de Raymundo Asfóra que titula a Pasta da Educação campinense a adquirir os direitos da obra e mandar imprimi-la em tiragem que não caiba apenas nas 148 escolas públicas municipais, mas que possa ter exemplares doados a todo e qualquer filho desta terra-mãe que manifeste interesse em tê-los como seus.
Tenho pra mim que isso não é pedir demais! E espero logo logo aplaudir o alcaide por tomar tão magnânima providencia, em nome da história que ele mesmo cultua e faz parte.
E a Vanderley e Ida, agradecendo-lhes pela distinção do presente e da especial dedicatória, devo avisar-lhes que só vou chamar esse livro de BARSA DE CAMPINA GRANDE, com direito a lugar de honra nas prateleiras do meu escritório domiciliar.